domingo, 26 de fevereiro de 2017

Ainda falta muito à China para ser o líder Mundial

Custa-me a opinião corrente de que a China é a líder da Globalização, e a grande defensora do comércio livre Mundial

É um facto que a China já assumiu muitos dos elementos de uma liderança global. É a maior potência comercial do mundo, possui o maior exército permanente e comporta-se como um líder global, promovendo novas instituições internacionais como o Asian Infrastructure Investment Bank e o enorme projeto comercial mundial One Belt, One Road .

As forças armadas da China também se tornaram globais, estabelecendo sua primeira base logística no estratégico Djibouti sabendo que mais se seguirão. O país asiático está a construir alianças formais, consolidando ainda mais sua posição não apenas como um líder emergente ou regional, mas como uma potência global. E, é claro, a China abraçou oportunidades para mostrar seu potencial de liderança ao receber prestigiados eventos internacionais, como o G-20 e as Olimpíadas.

Mas isso por si não é suficiente para que a consideremos o líder da Globalização Mundial. Muito mais tem de ser feito para que a consideremos uma atenta e participante potencia na eliminação das preocupações mais prementes do mundo.

Por exemplo, a contribuição inicial da China para para ajudar a combater a crise do vírus Ebola foi menor que a de Cuba e, no final, sua contribuição financeira foi de apenas três por cento da dos Estados Unidos. Em relação a enorme crise dos refugiados, a China afirmou-se solidaria e …nada mais.

Em relação à energia e à poluição, a China planeia exportar as suas indústrias mais poluentes, incluindo as centrais a carvão, para todo o mundo, por meio de sua iniciativa One Belt, One Road.
Os seus governantes dizem que a China não se fechou para o mundo exterior, mas o facto é que o governo aprovou inúmeras leis e regulamentos para limitar o impacto dos livros didácticos , das organizações não-governamentais dos media, da Internet e de eventos culturais e de entretenimento sobre a sociedade chinesa.

Económica e financeiramente têm estabelecido limites acentuados às saídas de capital restringindo as oportunidades e formas das empresas tecnológicas estrangeiras entrarem e trabalharem o mercado chinês ou, alternativamente, forçando a transferência de tecnologia das empresas estrangeiras para as empresas chinesas.

Finalmente, ao considerar a China como um líder global, vale a pena olhar para o modelo Chinês. Sim, é um feito extraordinário ter tirado centenas de milhões de pessoas da pobreza. Mas qual é o modelo da China hoje? Vale a pena imitar um modelo que tem os inúmeros desafios ambientais, de saúde pública bem como outros desafios sociais como os que enfrenta como resultado de seu modelo de desenvolvimento? Pode o mundo ter um líder global que não se pronuncie sobre os abusos de direitos humanos e que tem um longo registo de não reconhecer e abordar os seus próprios atropelos?

Os EUA podem ter abdicado do seu papel de líder Mundial por várias razões, mas isso não é garante que olhemos para a China como o seu natural substituto.



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

McMaster; o Russofóbico

A escolha de Herbert Raymond "HR" McMaster para o lugar de Michael Flynn como assessor de segurança, marca uma mudança - que antecipei - na abordagem politico/estratégica com a Rússia. Ao contrário de Flynn, o GEN MacMaster é tudo menos um apreciador da Rússia, tendo mesmo referido publicamente que ela é a maior ameaça aos EUA. Isto foi dito pelo vice-presidente do Comité de Defesa e Segurança do Conselho da Federação Russa, Franz Klintsevich;


McMaster, bastante apreciado pelo senador John McCain, esteve no Afeganistão e Iraque com o GEN Petraeus, tendo este trazido uma nova abordagem para o tipo de guerras híbridas / não convencionais que se travam hoje em dia.

A abordagem de que isto é uma conspiração vinda de dentro, minimiza a inteligência de Trump que irá deixar cair todos os que não lhe interessam agora, isto após ter ganho as eleições com eles (Milo é só mais uma pequena perda sem importância neste momento).

Prova desta inversão de mensagens foi a recente comunicação da embaixadora do US na ONU advertindo a Russia. 

O desafio para Trump é, insisto, o triângulo China/Rússia/ Irão, os recursos energéticos e o one belt, one road.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Ainda Flynn; os tweets de Trump

Os últimos tweets de Donald Trump mostram um homem agastado por ter tido de aceitar o afastamento de Mike Flynn. Trump que apontou o dedo tantas e tantas vezes à intel dos US e que por isso sabe quem afrontou, parece estar a passar pelo seu segundo grande teste, sendo o primeiro o confronto com o Juiz  James Robart na questão das entradas de indivíduos de países islâmicos nos US. Com as imprevidências de Flynn e a suspeição de ligações da Rússia ao governo de Trump, a intel nem teve de se esforçar muito para "eliminar" Mike Flynn.

É que isto de aproximações à Rússia deve ser feito com cuidado. A sociedade americana não parece estar ainda preparada para o grau de amizade que a administração Trump pretende. Ainda há um par de anos vivíamos em bipolaridade e nós podemos tirar a US e a Rússia da bipolaridade, mas não conseguimos tirar a bipolaridade dos US e da Rússia !

O analista politico, inclinado à esquerda, Pablo Escobar refere que Trump teve de deixar cair um desajeitado Flynn para o deep state ao mesmo tempo que acha que a luta ainda agora começou, mas a vantagem é do pântano !

What’s certain is that the fratricide war between the Trump administration and the most powerful Deep State factions will be beyond vicious. Team Trump only stands a chance if they are able to weaponize allies from within the Deep State. As it stands, concerning the Kissinger grand design of trying to break the Eurasian “threat” to the unipolar moment, Iran is momentarily relieved; Russia harbors no illusions; and China knows for sure that the China-Russia strategic partnership will become even stronger. Advantage swamp.

Esta é uma oportunidade de toda a equipa governativa ser mais humilde e cautelosa na forma como estão a gerir a sua relação com os "checks & balances". De outra forma serão anos de trabalho perdidos para os Left / Libs / Democrats.




terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Myke Flynn; This is the End

Myke Flynn demitiu-se. Ao que tudo indica, antes de ser o assessor para a segurança nacional, conversou com o embaixador russo assegurando que as sanções de Obama não teriam efeitos com Trump. Esta acção foi letal; ninguém fala em nome dos EUA antes de estar empossado para tal. Ao que tudo indica "informações de dentro" há muito circulavam com uma versão contrária que se confirmou; Flynn mentiu ao vice-presidente dizendo que não tinha abordado esse assunto quando falou com o embaixador russo nos EUA. A demissão de ontem foi o corolário lógico da falta de confiança de Trump em Flynn.

Se alguma coisa se prova é que em Washington as coisas estão a funcionar normalmente; quem falha, paga por isso. Trump foi rápido e inapelável.

Há outras conclusões que retiro 1) A Rússia teve mesmo interferência no processo eleitoral dos EUA; 2) Trump tem aqui a faca e o queijo para modificar o  seu discurso pró Rússia o que é um dos seus desejos (ver último paragrafo)

Claro que há que ache que tudo isto pode ser um grande complot dos intel contra Trump como a Breitbart ou os Conservatives da American Thinker ou mesmo os Libertarians da Ron Paul Institue.. Lew Rockwell é desta opinião e acha que Pence é um neocon que quer a guerra e que tramou Flynn com escutas. Há mesmo que diga que Trump ajoelhou ao status quo / deep state, traindo os que acreditaram nele.

Não me parece mas posso estar enganado. Flynn foi imprudente. Esqueceu-se que a intel dos EUA tem "vida própria" e poderá estar efectivamente preocupada com as ligações do governo de Trump à Rússia. Há que ver a parte positiva da questão; todos serão mais cuidadosos agora.  Insisto; as relações Rússia / Irão / China são a grande dor de cabeça de Trump. Ele próprio não quer a China a passar pelo Irão. "Iran is the key link of the "Silk Road" land route to Europe, as it is connected to China by a railway through Turkmenistan and Kazakhstan," disse o analista de esquerda Russo/Arménio Sarkis Tsaturyan - o que me parece certo. Its business baby business !

domingo, 12 de fevereiro de 2017

The End of the Asian Century

O Professor Miguel Monjardino dá destaque no Expresso de ontem à turbulência na Ásia / Pacifico, referindo como importante para esta análise o livro de Michael Auslin do American Enterprise Institute “The End of the Asian Century” (Yale University Press: 2017). Uma das teses de Auslin é que a Ásia e a China em particular perderam o fulgor e que o seu crescimento actual e vindouro não suporta um envelhecimento derivado da não substituição de gerações, isto dado que toda a Ásia têm um problema demográfico (onde é que eu ja ouvi isto ? ). Os impactos serão óbvios dado que não existe na China qualquer rede de welfare state, não tendo este pais atingindo ainda um nível que permita ao seu governo implementar politicas com características sociais, sendo o suporte da parte das famílias e de organizações locais, previsivelmente insuficiente em caso de degradação acentuada do clima económico e por inerência social. Até que ponto, em caso de crise, estas estruturas aguentam não derivando para o caos é uma das perguntas a que vale a pena tentar responder. Um livro a ler.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Trump e o Irão

Porque razão decidiu Trump apontar a sua ira ao Irão apresentando-o como Inimigo ? Pelos vistos porque não gostou que eles tenham testado um míssil balístico ! Mas o facto é que eles não romperam o  JCPOA estabelecido. Então o que incomoda tanto Trump ?


Dois artigos recentes apresentam duas visões inclinadas para a esquerda para uma posição que poucos antecipavam que o declarado em campanha não intervencionista Trump pudesse defender.

Para Mike Whitney no Conterpunch, um publicação de esquerda radical, as provocações de Trump pretendem fazer com que o Irão abandone unilateralmente o acordo nuclear fechado em Julho de 2015. O acordo permite que o Ocidente garanta que o programa nuclear não venha a ser usado para fins militares, conseguindo o Irão o levantamento, a prazo, das pesadas sanções a que tem sido sujeito. Se o acordo nuclear com o Irão era bom, pois bloqueia potencial acção Iraniana a troco do fim das sanções, porque razão deve ser revertido. Bom, por que com isso Trump tem o caminho aberto para colocar na liderança do Irão quem o EUA querem. As boas relações Irão / Rússia / China dificultam e muito o bloquear da silk road economic do one road one belt chinesa, este sim o grande desejo desta administração americana.






Isto mesmo é suportado por Pepe Escobar, os EUA estão incomodados com o acordo Sino-Russo:

Eu tenho uma abordagem alternativa: acho que Israel bem como a Arábia Saudita têm e terão uma imensa influência nos destinos da politica externa dos EUA e ambos não têm para com este acordo e para com o Irão uma atitude positiva. Trump será só a caixa de ressonância destas vontades.

Muitos como eu -  e como Pat Buchanan - têm a esperança que anos e anos de guerra, morte e destruição no médio oriente tenham um fim e que os erros dos EUA sejam corrigidos com uma politica não-intervencionista. Estes primeiros dias de Trump não indiciam o melhor, ao contrário do que esperava. 


Seja como for, nada no Médio Oriente será conseguido sem o Irão. Os Xiitas só têm que aguentar as provocações do Presidente Americano  e do seu apoderado Flynn e esperar com enorme paciência. Quanto a Trump parece-me mais do mesmo mas aguardemos.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Desigualdade ou Pobreza ?

Fascina-me a recorrente ideia de que o Mundo - e alguns países em particular ! - tem um problema de desigualdade e que essa mesma desigualdade só seria resolvida redistribuindo o rendimento dos ricos para os pobres. Já não vou pelo caminho de ser imoral e injusto tirar a alguém para dar a outro. Limito-me a reflectir que distribuir o que os ricos têm pêlos pobres, dada a quantidade mundial destes últimos tornaria todos ...mais pobres e ninguém mais rico. Ora este é o principal problema: a pobreza. Criar condições para erradicar a pobreza terá de ser sempre o nosso maior desafio e não a igualdade.

Há uma forma de reduzir a pobreza, uma forma provada e testada ao longo de milhares de anos; produzir e trocar coisas com outros. Especializando-se cada um em fazer um determinado tipo de coisas conseguimos que muitos possam ter coisas para trocar, produzindo e trocando cada vez mais. 

Há um espaço que se cria com estas trocas onde justamente todos enriquecem; chama-se “mercado”. É fundamental que este espaço seja o mais livre possível de intervenções sobre ele para que funcione cada vez melhor e, para que a informação - sobre a forma de preços - circule da forma o mais eficiente possível. Esta é a única maneira de cada um saber o que produzir de forma a não desperdiçar recursos produzindo o que não interessa.

Muitas vezes esta conversa da igualdade parece-me mais uma conversa de invejosos, gente que já não sendo pobre, está acima de tudo preocupada em que o outro não seja mais rico que ela e isto nada tem a ver com acabar com a pobreza!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

No principio era o....não-intervencionismo e livre comércio

Este não é um blog sobre relações internacionais se bem que muito do que eu vá escrever seja sobre elas. Este é um blog das minhas reflexões e ideias sobre o que são as relações internacionais e que em síntese se resumem a duas; não intervencionismo e livre-comércio. Muitas das minhas ideias são ideias em segunda mão. A fonte de reflexão é quase sempre este homem; Ron Paul. Que tenham boas leituras é o meu desejo. Tenha eu sempre engenho e arte para escrever e  mostrar coisas que vos interessem. - Rodrigo Silva