sábado, 6 de janeiro de 2018

Irão; bem vindos a 2018, "tudo como dantes, quartel-general em Abrantes"

Agora que as coisas parecem estar mais calmas no Irão, quiçá por pouco tempo, vale a pena olhar para algumas coisas que foram ditas sobre uma potencial nova revolução árabe em curso.

A insurreição  começou na quinta-feira, 28 de dezembro de 2017, na cidade de Mashhad, quando manifestantes foram para a rua para protestar contra o aumento dos preços, as altas taxas de desemprego e a corrupção no governo do Irão. Gradualmente os protestos foram para as medias sociais, o que levou o governo iraniano a  desligar a internet para impedir que os protestos aumentassem. No fim de semana seguinte, os protestos espalharam-se pelo pais inclusive em áreas que são consideradas centrais para o governo de Rouhani.

O "muito inclinado à esquerda" jornalista freelancer Pepe Escobar partilhou recentemente um mapa bastante interessante onde correlaciona os focos de protesto no Irão com as localizações das New Silk Roads / BRI e o International North South Transport Corridor (INST).


Quando começaram os protestos contra as políticas económicas neoliberais do governo liderado por Rouhani , os EUA e Israel rapidamente aproveitaram a situação. O efusivo apoio de Trump, e de Nathanyahu, por um lado, mas também dos neocom como McCain e dos "dem-libs" como Hillary Clinton aos revoltosos e o absoluto silêncio de Putin e Xi Jiping foram esclarecedores. Embora os protestos tenham sido inicialmente pequenos, os "mainstream media" aproveitaram a ocasião para potenciar o que eram de facto focos isolados e pouco relevantes. Em poucos dias passámos dos protestos das populações mais pobres para jovens armados a pedirem o regresso do Xá, saibam ou não quem foi e o que fez.

Quanto aos governantes iranianos, apesar de compreenderem a legitimidade dos protestos  acusam directamente os US e a CIA de conspiração.

Interessantes, para uma avaliação da situação, são as palavras da especialista Iraniana em Ciência Política e Relações Internacionais  Ghoncheh Tazmini quando escreve "let us step aside from the hype over the protests. While Rouhani’s financial mismanagement can be scrutinised, and the pace of reform, intensity, speed and delivery of change are being disputed, Rouhani’s progressive agenda has borne fruit. The clearest example of the success of the reform agenda is the 2015 nuclear deal struck between Iran and six world powers: the United States, the United Kingdom, Russia, France, China, and Germany (the P5+1). Iran’s official revolutionary discourse rejects compromises with the West. The watershed nuclear deal, caught in the middle of factional opposition and wrangling, ultimately received the implicit approval of the conservative Supreme Leader, Ali Khamenei. This flexibility suggests a shift towards pragmatism and a more conciliatory stance. Other social policies that are reflective of change include the debate over the re-election of a Zoroastrian as a city council member in Yazd. While the ultra-conservative head of the Guardian Council, Ayatollah Jannati argues that religious minorities cannot be representatives of Muslim-majority constituencies, Rouhani and the parliament are pushing for a reinterpretation. Other measures include the regime’s socially conscious measure to set up addiction treatment centres modelled on the American Alcoholics Anonymous model, to care for alcoholics. This subject is taboo or ‘haram’ (prohibited in Islam) to even discuss. Since 2015, following the order of the Health Ministry dozens of private clinics and government institutions have opened help desks and special wards for alcoholics. isto é as reformas de regime estão em curso e a grande maioria dos iranianos está com os seus líderes. 

Verdade seja dita, a economia iraniana não está saudável mas para isso muito contribuiu o embargo dos US e da Europa, agora atenuado. Mas também é verdade que a maioria dos iranianos ficou entusiasmada e orgulhosa do papel de sua nação na frustração dos planosque havia a ocidente de ocupar grande parte da Síria e derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad. Em contraste, do outro lado, nesta longa proxy war, os EUA, Israel e Arábia Saudita reiniciaram a sua procura de vingança da Síria, do Irão e da Rússia.

Em síntese, depois do clamoroso falhanço na Síria, o desastre do Iraque e da Líbia os habituais desestabilizadores reorientam as suas forças para o Irão. Nada de novo; desde que o Médio Oriente esteja instável e haja permanente confronto entre Xiitas e Sunitas os mesmos de sempre vão beneficiar. Como diz o bom povo português " tudo como dantes, quartel-general em Abrantes"





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