I - Contexto
A Coreia do Norte (RPCN) é uma ditadura
nacionalista e socialista, que faz do isolacionismo, tradicionalismo e da auto-suficiência
a sua essência como nação. Esta afirmação sintetiza o Juche,
que é a ideologia da Coreia do Norte (…A
concretização da independência política, da auto-suficiência económica e da
autonomia da defesa nacional são os princípios que o governo mantém de forma
consistente)
A liderança da Coreia do Norte, pela
família Kim, considera a aquisição de armas nucleares o único meio de garantir
sua sobrevivência regional e mundial. (Deterrence theory). A
RPCN tem todo o direito, como Israel ou o Irão, de ter armas nucleares e não
vejo que os EUA possam ser definidores de quem possa ou não as ter. Neste post,
no entanto, pretendo analisar os recentes esforços no
caminho da desnuclearização, dado que é isso que o Mundo Ocidental mais claramente
pede à Coreia do Norte.
A Coreia do Norte ratificou o
Tratado de Não-Proliferação Nuclear em 1985, mas retirou-se em 2003, quando foi
descoberto que continuava a enriquecer Urânio. Realizou o seu primeiro teste
nuclear três anos depois. Desde essa data várias rondas de negociações
bilaterais e multilaterais destinadas a desnuclearizar a Coreia do Norte
fracassaram. Clinton e Bush foram os grandes perdedores. Pyongyang já assinou dois acordos, tendo-se retirado
unilateralmente dos mesmos; o da Agência Internacional de Energia Atómica e o de
Não-Proliferação Nuclear. Violou o acordo de desnuclearização inter-coreano, violou
o acordo de 1994, a declaração conjunta de 2005 e os acordos dos anos de 2007 e
2012.
Neste momento a Coreia do Norte
tem capacidade
para atingir os EUA tendo Kim anunciado que a sua politica byungjin
foi alcançada.
II – Cenário Futuro
Kim Jong-un afirmou que só se vai
desnuclearizar depois de os Estados Unidos e a Coreia do Sul negociarem um
tratado de paz com ele para terminar formalmente a Guerra da Coreia. Esse
processo já começou no passado dia 26 de Abril, num encontro bilateral com o seu homólogo
da Coreia do Sul, Moon Jae-in – um homem que tudo tem feito para a reunificação se dar,
apesar de ser considerado por Kim um “fantoche de Trump”.
É meu entendimento que Pyongyang
não quer nem a paz nem nenhum tratado. A RPCN quer a negociação de um tratado de
paz e quanto mais demorada e inconclusiva for a negociação melhor. Ao levar os
Estados Unidos a um processo de paz, Kim espera que o seu estatuto de líder mundial seja
credibilizado por se sentar à mesa de Trump, que os seus crimes contra o seu povo sejam relativizados, que o seu regime seja legitimado, que a Coreia do
Sul baixe suas defesas. Kim pretende induzir os EUA e a ONU a suspenderem as
sanções e, eventualmente, a conseguir que as tropas dos EUA se retirem da
Coreia do Sul. Quando chegar a hora da verdade, Pyongyang vai acabar por
rejeitar os pedidos de verificação dos EUA e da ONU ao material nuclear e dir-se-á disponível para
novas concessões com mais exigências e mais provocações. A tudo isto a China assistirá em silencio.
Eventualmente a única forma de
desnuclearizar a Coreia do Norte reside em convencê-la de que se deve desarmar
e reformar ou irá desagregar-se como a URSS. Isso exigirá que os Estados Unidos,
apoiados pelos seus aliados, continuem uma campanha de subversão política e
isolamento financeiro, continuando a sancionar e a apontar quais os bancos
chineses que mantêm relações ilegais com bancos norte-coreanos e que têm sido fundamentais
para o programa nuclear da RPCN. A pressão internacional para que os bancos
relatem a propriedade norte-coreana de ativos offshore tem de ser forte. Esta
estratégia, no entanto, é de difícil resolução pois neste momento as relações
com Xi Ji Ping não são as melhores, sendo a China para Trump o grande obstáculo
a “tornar a América grande outra vez”.
É exequível, no entanto, que os
Estados Unidos e a Coreia do Sul continuem a apostar em apoiar activamente as deserções
de diplomatas e políticos norte-coreanos como os que expuseram parte da rede de
lavagem de dinheiro de Pyongyang.
Não pensem que não concordo que a
reunião das Coreias é de facto um objectivo a prosseguir. Se as questões socias
e de direitos humanos são inquestionáveis, em termos económicos a reunificação
seria muito mais lucrativa do que se pensa. Seul poderia reduzir drasticamente os
seus gastos com defesa, que actualmente atinge $ 30 bilhões US por ano, ou 2,5%
do PIB. Um número que exclui os $ 1 bilhão US que Washington concede anualmente
para ajudar a cobrir os custos da presença militar dos EUA na península. A Coreia
do Sul poderia também acabar com o recrutamento universal e reduzir os seus
680.000 militares para 500.000 ou menos, libertando um grande número de
pessoas.
Com o tempo, uma Coreia
reunificada, com uma população de 75 milhões de trabalhadores, poderia emergir
como uma potência industrial e consumidora; uma verdadeira Alemanha da Ásia. À
medida que duas economias se unissem novas oportunidades de investimento surgiriam.
Segundo
um relatório de 2009 do Goldman Sachs, dentro de 30 a 40 anos, a península
reunificada, poderia ultrapassar a França, a Alemanha e até o Japão em termos
de PIB. Os actuais parceiros comerciais da Coreia do Sul - especialmente os
dois maiores, a China e os Estados Unidos - beneficiariam imensamente dessa
nova fonte de vitalidade económica.
O facto é que não me parece que assistiremos
a este caminho tão depressa, pois não há qualquer indício concreto que Kim abandone a estratégia e as políticas iniciadas por seu avô e continuadas por ele e seu pai. A cimeira com Trump será muito importante na validação ou negação desta hipótese.