“We’ll be coming out of Syria, like, very soon,
Let the other people take care of it now. Very soon, very soon, we’re coming
out, we’re going to get back to our country, where we belong, where we want to
be.” Duas semanas após estas palavras de Donald Trump e na sequência de bombardeamentos
da aviação síria e russa em Ghouta oriental, Bashar é acusado de atacar os
habitantes com recurso a gás cloro. A linha vermelha traçada por vários lideres
ocidentais, inclusive por Trump, tinha sido ultrapassada. Outra vez.
Vamos por de parte a questão se
houve ou não ataque com gás, algo que ninguém de facto tem a certeza. Vamos por
de parte a questão de que um ataque de Bashar nesta altura com gás não faz qualquer
sentido. Para os media internacionais Bashar voltou a fazer o que tantas vezes
foi avisado para não fazer; gazear o seu próprio povo.
Nos últimos meses, Trump e o “enfim
terrible” Macron ameaçaram com o uso da força se o regime Sírio passasse
novamente a " linha vermelha " das armas químicas.
Após o ataque com Sarin a Ghouta,
em 2013 Obama teve que escolher entre efectivar as suas ameaças de intervenção
militar se o regime usasse armas químicas - arriscando-se a atolar os US num
conflito que não estava nas suas prioridades geopolíticas - ou a não intervir,
perdendo a credibilidade aos olhos do mundo e aceitando o domínio Russo, e por
acréscimo do Irão nestes territórios. Obama escolheu a segunda opção.
Trump após sua eleição condenou
essa escolha, e no ano passado optou por intervir, mas em pequena escala num
ataque dirigido apenas a eliminar os locais de produção e armazenamento de
armas químicas na área e não para derrubar o regime de Assad. Dessa vez anunciou o ataque
dias antes, dando ao regime sírio tempo suficiente para evacuar seus activos
militares para bases russas ou para o aeroporto civil de Damasco. Em segundo
lugar, os Estados Unidos alertaram os russos para evitar acidentes com as forças russas. Em terceiro lugar apenas três locais militares vazios foram atingidos.
Mais uma vez, a antecipação com
que Trump alertou a Rússia e a Síria sobre os seus objectivos e a precisão dos três ataques, sem
gerar vitimas e contra instalações que se diz serem utilizadas para produzir e
armazenar armas químicas, indicam que por trás deste ultimo ataque não há
intenção de intervir em grande escala, o que realmente elevaria as tensões com
a Rússia para níveis muito perigosos, mas sim de ter de intervir por uma
questão de credibilidade internacional, de manutenção da sua palavra após as ameaças
que proferiu. Isto é, Trump parece capturado por aqueles a quem não interessam
que os US saiam da Síria e a deixem entregue aos Sírios e aos entendimentos
regionais que se estabeleceram com o Irão e com a Russia.
Quem ganhou com tudo isto? 1) O
regime Sírio - e por acréscimo a Rússia - porque acabou com a resistência em
Ghouta, recuperando o controle do território e marcando a sua vitória militar
mais importante depois de Aleppo em 2016; 2) Macron
e May aflitos na popularidade interna e desejosos de mostrar poder; 3) Todos
aqueles que se recusam a que os Estados Unidos da América reduzam a sua
presença militar no Médio Oriente, seja porque a instabilidade lhes interessa
para que a atenção do Mundo árabe não volte a recair sobre eles, como é o caso
de Israel, seja porque tem muito a ganhar com a guerra e com o intervencionismo
militar como é o caso do complexo militar-industrial norte-americano seja ele
de inspiração mais lib-dem ou neo-com.
Todos estes conseguiram colocar
Trump, que tantas vezes se apresentou como não -intervencionista, numa posição
em que ele nunca quis estar, tendo que "fazer alguma coisa" para não
perder a face depois de meses de ameaças. O Presidente americano parece cada vez mais capturado pelo meio ambiente que o circunda, e pelo deep state, o que é de facto uma desilusão. As tropas, essas, vão continuar por lá.
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