sexta-feira, 14 de julho de 2017

E agora, para onde vão os terroristas ?

A queda de Mossul e o anúncio da morte de Abu Bakr al-Baghdadi são golpes duríssimos no Daesh. As tropas iraquianas têm o controle quase completo de Mossul e os curdos têm a capital do auto proclamado Estado Islâmico, Raqqa cercada. A destruição da Mesquita de al-Nuri é simbolicamente o aceitar da derrota.

O grupo jihadista não só perdeu mais de 60% do território que ocupava na fronteira iraquiana-síria, perdeu também mais de 80% de sua receita, de acordo com a consultora IHS Markit, com sede em Londres. Os rendimentos mensais, que no segundo trimestre de 2015 eram de 81 milhões de dólares (70,9 milhões de euros), baixaram, no segundo semestre de 2017, para 16 milhões de dólares (14 milhões de euros). O Daesh controlou 90.800 km2 de terra a partir desde Janeiro de 2015. Dois anos e meio depois o grupo só detém 36.200 km2.

Mas, se o Daesh cair o que acontece aos terroristas islâmicos? O mais provável é que se distribuam por estados frágeis ou falhados ou onde os níveis de instabilidade política e económica sejam elevados. Isto associado a um caldo cultural/religioso que sejam potenciador da sua presença. Eles irão para onde há guerra ou onde ela está iminente.

Líbia
Depois da queda do Governo de Kadhafi, em 2011, a Líbia ficou mergulhada no caos e na anarquia, e o Daesh não demorou em decidir expandir-se para esse território do norte de África. Os primeiros representantes deste grupo chegaram ao país em 2014 e conseguiram convencer os islamistas a jurar lealdade a al-Bagdadi.

O terroristas tinham como objectivo espalhar o Islão por toda a África do Norte, começando pela Líbia. Em Dezembro de 2016 sofreram uma importante derrota em Sirte, mas, infelizmente, a resistência dos radicais continua, tendo eles se deslocado para oeste.

Hoje em dia, o país africano é assolado por uma enorme instabilidade. Com nacionalistas e islâmicos lutando politicamente por um governo centralizado e onde as tribos e os elementos pro-Khadafi  têm uma palavra a dizer, num pais onde os grandes poderes ocidentais oscilam entre quem devem apoiar, a Líbia, na verdade, parece um lugar muito atraente para o Daesh recomeçar e se reerguer.

Iémene
Outro país destruído por um conflito armado é o Iémene. A guerra civil entre rebeldes houtis e o actual Governo, apoiado pela Arábia Saudita, dura desde 2015. Durante estes dois anos o grupo terrorista sunita Al-Qaeda, aproveitou para crescer na região.

Para os terroristas, o Iémene é o campo de batalha ideal. O único obstáculo para os integrantes do Daesh é a Al-Qaeda, o seu inimigo principal. Os radicais do Estado Islâmico mostram-se pouco dispostos a fazer as pazes com o seu rival, numa geografia com todos os ingredientes para disseminar o seu califado.

Indonésia
A actividade dos terroristas islâmicos tem aumentado no Sudeste Asiático, região com um número significativo de muçulmanos. A Indonésia, o país com a maior população muçulmana do mundo, é obviamente um local de aposta. As autoridades reconhecem que existem células de jihadistas em quase todas as províncias da Indonésia que esperam ordens para lançar os seus ataques. O obstáculo principal para o Daesh neste país é a ideologia dominante da Indonésia, a Pancasila, proclamada um pouco antes de o país se tornar independente. Esta filosofia estatal promove a fé em Deus, a democracia, a justiça social e a unidade do povo indonésio.

Por agora, Jacarta está a ganhar a batalha contra o Daesh, mas não se sabe se será capaz de lidar com esse problema no futuro, quando os terroristas chegarem massivamente, por exemplo, da Síria.

Filipinas
o presidente Duterte enfrentou uma crise complexa na sua ilha natal em Mindanao. Durante quase um mês, os soldados do governo lutaram para libertar Marawi, a maior cidade muçulmana do país, de terroristas afiliados do Daesh e liderados pelo Maute Group , uma organização jihadista filipina que sitiou a cidade em 23 de maio

O cerco de Marawi faz parte de uma onda de ataques de grupos afiliados ao ISIS que procuram estabelecer uma província do Estado islâmico, nas Filipinas. Nos últimos dias, outros grupos com vínculos ao ISIS, nomeadamente os famosos combatentes da liberdade islâmica de Bangsamoro, lançaram ataques simultâneos em outras partes de Mindanao, aumentando a perspectiva de que o terrorismo se espalhará além de Marawi. Duterte advertiu mesmo sobre a possibilidade de uma guerra civil em Mindanao, quando as comunidades cristãs optarem por se armarem contra os extremistas muçulmanos como fizeram durante anteriores conflitos na ilha.

Tajiquistão
Entre os países da Ásia Central que, no passado, fizeram parte da União Soviética, talvez o mais destacado na ofensiva jihadista seja o Tajiquistão. Os naturais deste país são alguns dos mais ativos combatentes do Daesh. Por sorte, o próprio Tajiquistão ainda não tem uma presença considerável de jihadistas no seu território.

Duas décadas após a independência e uma guerra civil, o Tajiquistão continua a ser o país mais pobre da Ásia Central. As remessas de trabalhadores migrantes representam quase metade de sua economia. O governo congratula-se com o investimento estrangeiro, mas a corrupção limita as oportunidades de investimento. Este é um cenário atractivo para a crescente radicalização que tanto preocupa a Rússia de Putin.

As autoridades tomaram medidas muito duras de contenção e, em particular, fecharam centenas de pequenas mesquitas que não tinham licença, proibiram a indumentária muçulmana nas escolas e nos postos de trabalho, fecharam dezenas de lojas de roupas islâmicas e impediram a assistência a menores de 18 anos nas mesquitas.

Depois da guerra a politica
Carl Von Clausewitz, um dos maiores estrategas militares da história chamou a guerra de "uma extensão da política por outros meios".

O que ele também quis dizer com isso é que, se uma acção militar for bem sucedida, ela não pode ficar falha de acções diplomáticas e políticas. A menos que haja uma estratégia sólida e sustentável, a guerra voltará. No mundo de hoje, em que enfrentamos o terrorismo organizado, não é de uma guerra entre exércitos uniformizados e nações soberanas que falamos, mas de algo híbrido e assimétrico.

Estes conflitos estão enraizados nas pessoas e são elas que formam os Estados. Estão inscritos nas ideologias e na religião, nas fricções sectárias, na exclusão política e na marginalização social, no acesso aos recursos e a sua distribuição. Há uma longa lista de causas e condições básicas que não respondem à força-bruta da guerra, que não podem ser "bombardeadas" fisicamente e desaparecer.

Por outras palavras, se a derrota do Daesh não for enquadrada dentro de um plano claro e realista para realizar o trabalho humano, político, diplomático e de desenvolvimento necessário para corrigir os problemas que o originaram, do qual o problema central é o intervencionismo ocidental, a guerra e o terrorismo continuarão.


Sem comentários:

Enviar um comentário