domingo, 4 de junho de 2017

O terror voltou a Londres. Quem tem razão; Roy ou Kepel ?

O terror voltou a Londres. Pergunto a mim próprio que mais poderei dizer ou escrever sobre este assunto. Lembro-me dos que morreram. Do que poderia ter sido a sua vida. Das famílias destruídas. Penso que temos de perceber tudo isto, para resolver esta situação e sinto até uma certa responsabilidade em contribuir para a compreensão. O conformismo que alguns denotam é a mais imoral das atitudes. A força bruta irracional dos que querem “arrasar tudo” alivia mas não resolve nada.Unicamente adia até à próxima vez.

Lembrei-me assim da disputa acalorada entre os dois mais notáveis estudiosos franceses do islão político, Gilles Kepel e Olivier Roy e sobre as suas respostas à questão de porquê é europeus se tornam terroristas islâmicos.

O seu vincado desacordo não é apenas uma disputa intelectual. A forma como entendemos o extremismo islâmico - e quais as respostas políticas adequadas – dependem das perguntas e respostas que temos a questão acima. É por isso que acho a querela Kepel vs Roy tão importante nos dias que correm.

Os terroristas são principalmente…Europeus !

A maioria dos assassinos dos ataques de Bruxelas, Paris e Londres foram criados nestes países. Por que é essas pessoas se revoltam contra os seus próprios compatriotas - e quem é/são os culpados? Oliver Roy defende que não estamos falando de uma "radicalização do Islão", mas sim a "islamização do radicalismo". Ele acha que devemos parar de procurar explicações religiosas ou culturais, já que apenas uma pequena fracção de muçulmanos europeus tem sido atraída por tal extremismo. Ele também refuta a ideia de que o racismo ou a discriminação é que radicalizou os muçulmanos nas sociedades europeias. Se este fosse o caso, diz ele, por que é um número substancial de convertidos europeus brancos se juntou a grupos como o Estado islâmico?

Em vez disso, Roy argumenta que estes terroristas estão envolvidos numa revolta geracional idealista - como quando furiosos jovens europeus na década de 1970 aderiram aos grupos terroristas de extrema esquerda como as Brigadas Vermelhas, a ETA, o IRA ou os Baden Mayhoff . De acordo com Roy, os niilistas de hoje voltam-se para uma versão deformada do Islão, como a melhor forma de se revoltarem contra a sociedade que consideram opressora, imoral e injusta. Eles  usam a promessa do paraíso, das virgens e da vida eterna com Alá, para justificar as suas acções, depois de serem manipulados por organizações extremistas e autoproclamados Imãs.

Roy vai mais longe e refere que muitos dos terroristas Europeus não eram particularmente religiosos. Eles eram mais propensos a serem encontrados em discotecas do que em mesquitas e muitas vezes têm uma história de pequenos crimes, alcoolismo e droga. Roy concorda que a religião tem alguma relevância, mas argumenta que os factores psicológicos e de alienação são os mais importantes na radicalização.

Devemos responsabilizar especificamente o salafismo?

Kepel acha que a (auto)-marginalização social, económica e política dos muçulmanos nascidos na França e também em UK, ajudou a criar o que ele chama de "terceira geração de jihadistas" - aqueles que surgiram entre 2005 e 2015. A sua marginalização levou-os as formas extremas de islamismo como o salafismo; uma versão altamente conservadora do islamismo, importado do Médio Oriente com a ajuda dos petrodólares da Arábia Saudita e do Qatar. Kepel acha que não se pode separar o jihadismo violento do salafismo islâmico e enfatiza a importância de tais crenças religiosas e dos seus conteúdos violentos e anti-ocidentais na criação das condições para atrair o terrorismo. 

Num debate histórico no Liberation, Roy afirmou  que não ignora o papel da religião e concordou com Kepel sobre a extensão do salafismo nos subúrbios pobres da França, Bélgica e mesmo na Grã-bertanha. No entanto, ele diz que isso não pode explicar a radicalização extrema, suicida e violenta de jovens. Roy rejeita a noção de que o salafismo ajude a incubar o extremismo violento - ou que os perpetradores das atrocidades de Bruxelas, Paris ou Londres sejam simplesmente classificados como Salafistas. Kepel, por sua vez, admitiu que existem algumas semelhanças entre diferentes formas de extremismo, mas reiterou a sua crença na ligação entre o Islão, o terrorismo Jihadista e o salafismo.

Os pontos de vista de Kepel e Roy talvez sejam complementares. É importante que todos os que se dedicam a estas áreas trabalhem juntos e em diferentes disciplinas para percebermos por que é que na sua maioria são os jovens os atraídos para estes comportamentos extremos como o terrorismo.

Para saber mais;

The Professor and the Jihadi - Gilles Kepel

Who are the new jihadis? - Oliver Roy




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