quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Refuse / Resist; um desabafo em forma de prosa ou o meu Portugal e os Fogos Rurais

Fez dez anos há pouco tempo que entrei na maior empresa de sistemas de informação geográfica do Mundo. A ela devo o facto de conhecer Portugal de Vila Real de Sto António a Monção. Há dez anos deram-me salário, um carro, pagavam-me a gasolina e os hotéis e em troca tinha de vender software SIG a entidades das áreas Florestal, da Conservação da Natureza e Agrícola. Um acordo justo e de sucesso.


A realidade é – pasme-se – o que alguns só agora começam a perceber; um país abandonado onde vivem pessoas idosas abandonadas num território também ele abandonado.

Os netos agora já nem a terra vão pois "o avô ja morreu" e "o que está para lá é um casebre, mato, árvores e rochas que não servem para nada". Ah e segundo a malta da "bolha", eucaliptos, muitos eucaliptos maus dos capitalistas adeptos do neo liberalismo selvagem !

As estruturas estatais descentralizadas, vulgo Câmaras Municipais, dominam estes territórios. São elas que ditam as leis, que empregam, que fazem as regras sociais e que dão os apoios, sempre com total “curvatura de espinha” aos gabinetes de Lisboa.

Elas são parte muito importante nesta tragédia que são os fogos rurais.


O quadrado 1) serviços municipais de protecção civil e bombeiros, 2) Câmaras, 3) clubes desportivos “da terra” e 4) politécnicos / universidades, condicionam todas as acções sem excepção; desde a venda do terreno do senhor A ao senhor B – sem cadastro - até ao financiamento para turismo rural da quinta do senhor B que pediu ajuda ao senhor A que até trabalha num sitio onde “se sabem destas coisas” a saber, o Politécnico ou a Universidade.

Banalidade #1 - Para começar a resolver o problema dos fogos deve-se começar onde eles ocorrem; no país abandonado, onde habitam pessoas abandonadas num território também ele abandonado. Será que os gabinetes de Lisboa e a “bolha” do Bairro Alto percebem isto ?


É no quadrado acima que está grande parte de problema. Mas terá de ser esse mesmo quadrado a ser a solução do problema. O meu medo é que isto seja como diz um amigo meu; “se a solução é o problema então o problema não tem solução”.

Estive dois anos a vender software SIG a entidades das áreas Florestal, da Conservação da Natureza e Agrícola. Muito dele para produção de cartografia de risco, para a constituição legal das ZIF e para produzir planos municipais de defesa de floresta contra incêndios. Recuso-me a aceitar que não serviu para nada.

Portugal é valioso. Tivemos sorte em ter nascido aqui. Vamos aproveitar a sorte e fazer por ela.

área ardida nos incêndios de Pedrogão, 2017 - FIREHUB 2017 - Esri Portugal

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