Fez dez anos há pouco tempo que entrei na maior empresa de sistemas de informação geográfica do Mundo. A ela devo o facto de conhecer Portugal de Vila Real de Sto António a
Monção. Há dez anos deram-me salário, um carro, pagavam-me a gasolina e os hotéis
e em troca tinha de vender software SIG a entidades das áreas Florestal, da
Conservação da Natureza e Agrícola. Um acordo justo e de sucesso.
A realidade é – pasme-se – o que
alguns só agora começam a perceber; um país abandonado onde vivem pessoas idosas
abandonadas num território também ele abandonado.
Os netos agora já nem a terra vão pois "o avô ja morreu" e "o que está para lá é um casebre, mato, árvores e rochas que não servem para nada". Ah e segundo a malta da "bolha", eucaliptos, muitos eucaliptos maus dos capitalistas adeptos do neo liberalismo selvagem !
Os netos agora já nem a terra vão pois "o avô ja morreu" e "o que está para lá é um casebre, mato, árvores e rochas que não servem para nada". Ah e segundo a malta da "bolha", eucaliptos, muitos eucaliptos maus dos capitalistas adeptos do neo liberalismo selvagem !
As estruturas estatais
descentralizadas, vulgo Câmaras Municipais, dominam estes territórios. São elas
que ditam as leis, que empregam, que fazem as regras sociais e que dão os
apoios, sempre
com total “curvatura de espinha” aos gabinetes de Lisboa.
Elas são parte
muito importante nesta tragédia que são os fogos rurais.
Incapazes de evitar o despovoamento
e o envelhecimento devido a dimensão do problema e sem influência
efectiva nas políticas centralistas da capital, vão gerindo os milhares que a Administração
Central lhe envia na maioria das vezes acriticamente, de forma a perpetuarem-se no poder ajudando os próximos e os amigalhaços, isto
é, safando-se como podem e ignorando olimpicamente os meios, formas e conhecimento que os podem ajudar a ter futuro. como tão bem expressa o Professor Xavier Viegas, da ADAI, especialista em fogos, neste frase "Vamos ver o que se passou em Pedrógão Grande: ao não ter plano municipal de defesa florestal contra incêndios, este município fica inibido de receber verbas do Estado para ações de prevenção. Quando perguntamos ao presidente da câmara o que foi feito, ele diz "fizemos isto, aquilo, mas não havia dinheiro para mais". E perguntamos: "Mas como queria ter dinheiro se não têm plano aprovado?" Vamos ter com a Ascendi, que devia cuidar da limpeza das faixas em torno das rodovias e essa empresa escuda-se no facto de não haver plano municipal de defesa das florestas nesses dois concelhos. E está dito na lei que esses trabalhos de gestão de combustíveis são obrigatórios no plano municipal. Se não há plano, estamos neste beco.
O quadrado 1) serviços municipais
de protecção civil e bombeiros, 2) Câmaras, 3) clubes desportivos “da terra” e 4)
politécnicos / universidades, condicionam todas as acções sem excepção; desde a
venda do terreno do senhor A ao senhor B – sem cadastro - até ao financiamento para
turismo rural da quinta do senhor B que pediu ajuda ao senhor A que até
trabalha num sitio onde “se sabem destas coisas” a saber, o Politécnico ou a Universidade.
Banalidade #1 - Para começar a resolver
o problema dos fogos deve-se começar onde eles ocorrem; no país abandonado,
onde habitam pessoas abandonadas num território também ele abandonado. Será que os gabinetes de Lisboa e a “bolha” do
Bairro Alto percebem isto ?
Será que percebem de uma vez por todas o
que diz hoje no Observador o José
Manuel Fernandes “ Para recuperar o mundo rural tem de voltar a existir uma
economia rural sustentável. O papel do Estado não pode ser apenas o de maior
empregador em muitos concelhos, mas sim o de encontrar e dar os incentivos
certos. Não é possível pagar para as pessoas não continuarem a abandonar as
aldeias, é preciso que elas encontrem motivos para lá continuarem.”
É no quadrado acima que está
grande parte de problema. Mas terá de ser esse mesmo quadrado a ser a solução
do problema. O meu medo é que isto seja como diz um amigo meu; “se a solução
é o problema então o problema não tem solução”.
Estive dois anos a vender software SIG
a entidades das áreas Florestal, da Conservação da Natureza e Agrícola. Muito
dele para produção de cartografia de risco, para a constituição legal das ZIF e
para produzir planos municipais de defesa de floresta contra incêndios.
Recuso-me a aceitar que não serviu para nada.
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