"A expressão “Escola Austríaca” ou “Economia Austríaca”, não é algo
que eu esperaria ver no vocabulário da política ou da cultura da mídia.
Mas desde 2008, isso vem acontecendo. Repórteres usam-na com certo
grau de compreensão, na expectativa de que seus leitores e expectadores
também a compreenderão. E isso muito me emociona, já que, há muito
tempo sou estudante da tradição do pensamento austríaco.
É comum usar a expressão como sinônimo de economia de livre mercado.
Eu não faço objeção a esta caracterização, mas ela não é exatamente
precisa. É possível estudar o papel dos mercados sem verdadeiramente
adotar a tradição austríaca, assim como é possível aprender algo da tradição
austríaca sem adotar uma posição política em especial. Contudo, a
tradição tem muito a nos ensinar e ela vai muito além da mera apreciação
e defesa da livre empresa.
Essa escola de pensamento tem o nome do país do seu fundador moderno
Carl Menger (1840-1921), um economista da Universidade de Viena
que fez grandes contribuições à teoria do valor. Ele escreveu que o valor
econômico advém da mente humana apenas e que não é algo que exista
como uma parte inerente de bens e serviços; a valoração muda conforme
as necessidades sociais e circunstâncias.
Precisamos do mercado para ele
nos revelar as avaliações de produtores e consumidores sob a forma do
sistema de preços que funciona dentro de um determinado mercado. Ao
fazer esta afirmação, ele estava, na realidade, recapturando o conhecimento
perdido que havia sido anteriormente estudado por Frédéric Bastiat
(1801-1850), J. B. Say (1767-1832), A. R. J. Turgot (1727-1781), e muitos
outros através da história. Mas a história precisa de gente como Menger
para redescobrir a sabedoria esquecida.
Menger construiu na Áustria uma nova escola de pensamento, com
pensadores como Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914), F. A. Hayek
(1899-1992), Ludwig von Mises (1881-1973), Henry Hazlitt (1894-1993),
Murray Rothbard (1926-1995) e Hans Sennholz (1922-2007) e deu origem
a um grande número de filósofos, escritores, analistas financeiros e
muitos outros que se formaram nesta tradição.
A Escola Austríaca promove
a propriedade privada, os livres mercados, moeda sólida e a sociedade
liberal nas suas linhas gerais. Fornece um modo de abordar a economia
que leva em conta a imprevisibilidade da ação humana (absolutamente
ninguém pode quantitativamente prever o futuro), e o grande papel da escolha humana na forma como a economia colha humana na forma como a economia funciona (nos mercados, são os
consumidores que dirigem as decisões da produção), e explica como é que
ordem pode emergir do aparente caos das ações dos indivíduos.
Resumindo,
a Escola Austríaca fornece a mais robusta defesa do sistema econômico
da sociedade livre que já foi feita. É por este motivo que eu aconselho a
Escola Austríaca às pessoas em vez de falar sobre Adam Smith e a escola
clássica, e muito menos outras escolas de pensamento, tais como a Keynesiana
ou Marxista.
As pessoas frequentemente se esquecem de que economistas não são
meros técnicos seguidores de números. Eles são filósofos de vários conhecimentos,
pensadores que difundem certas suposições sobre como a
economia funciona e como a sociedade é construída.
A Escola Austríaca
havia atingido o status de primeira linha quando a assim chamada Revolução
Keynesiana de 1930 acabou com o conhecimento anterior. John
Maynard Keynes inverteu a verdade em sua mente, ao argumentar que a
poupança não é precursora do investimento, mas um obstáculo na economia.
Sua concepção era de que os vários setores da economia (poupança,
investimento, consumo, produção, tomar e ceder empréstimos) não se integravam
através do sistema de preços, mas como agregados homogêneos
que estariam constantemente em colisão uns contra os outros. Ele imaginava
que sábios planejadores centrais, poderiam saber mais do que os
participantes irracionais do mercado e corrigir os desequilíbrios macroeconômicos
através da manipulação dos sinalizadores do mercado. Insistentemente
propôs a expansão do crédito como solução para todos nossos
males.
Este plano, no seu todo, pressupõe a existência de um estado sábio
e ativista que está envolvido em todas as instâncias da vida econômica.
Liberdade não era um ponto que o preocupava.
Ele escreveu sua tese numa época em que o mundo se apaixonou pela
economia planejada e pela sociedade planejada, e perdeu suas ligações
com a liberdade como ideal. Daquele ponto em diante, o sistema keynesiano
tem estado no comando. Mas, nos nossos dias, a Escola Austríaca tem
feito um retorno maciço em vários setores, incluindo o meio acadêmico, e
em grande parte isto se deve ao trabalho de instituições privadas, como o
Instituto Ludwig von Mises, que mostram que o paradigma austríaco faz
mais sentido para explicar a forma como o mundo funciona, do que o feixe
de falácias que caracteriza o sistema keynesiano.
As ideias são muito importantes para dar forma à sociedade. De fato,
elas são muito mais poderosas do que bombas ou exércitos e armas. E isso
se deve ao fato de que as ideias conseguem se espalhar sem limite. Elas estão
por trás de todas as escolhas e opções que fazemos. Elas podem transformar
o mundo de um modo que governos e exércitos não conseguiriam fazer. Lutar pela liberdade com ideias faz muito mais sentido para mim do
que lutar com armas, com política ou poder político. Com ideias podemos
obter mudanças reais e duradouras.
A Escola Austríaca também acredita nisso, porque atribui um valor
tão alto ao elemento subjetivo da economia e ao indivíduo como unidade
econômica primária.
Não somos dentes nas engrenagens da macroeconomia;
as pessoas sempre irão resistir a serem tratadas como tal. A economia
deveria ser tão humanitária como a ética, a estética ou qualquer outro
campo de estudo." in Ron Paul "Definido a Liberdade", Mises Brasil, 2003
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