A
marcha “Unite the Right” que
pretendia unir as várias facções da Direita americana (onde se encontravam
membros da chamada Alt-right, Neo-confederate, Traditional Workers Party, e os The
Knights Party) e, ao mesmo tempo, protestar contra a remoção de uma estátua
de homenagem ao General da Confederação Robert
E. Lee, foi contra posta com protestos por parte dos já famosos grupos Blacks Live Matter (BLM) e Antifa, para além de apoiantes
individuais dos dois lados
O Argumento do lado do movimento BLM e Antifa era de que a estátua do General Robert E. Lee significava racismo e supremacia branca pela parte
Sul dos Estados Unidos da América (EUA), necessitando assim de ser removida,
provocando um clima de perigo e ameaça para minorias, isto segundo os grupos
que se identificam à esquerda.
Em quanto não posso negar (quer por
senso comum, quer por não ter estado presente) que não existam suprematistas
brancos e racistas do lado reconhecido como de Direita, não posso deixar de
apontar que do lado do movimento BLM e
Antifa existem enormes e crassas
faltas de conhecimento que levam a que o acto de remover a estátua do General
Robert E. Lee leve a ramificações graves na sociedade americana.
Os movimentos de BLM e Antifa falharam redondamente, ou não quiseram de maneira alguma, em
perceber o simbolismo da estátua do General e da Guerra Civil Americana para os
Estados que fizeram parte da Confederação.
Vejamos então o que tudo isto
significa.
Todos os Estados, mais novos ou mais
velhos, possuem pilares onde assentam a sua identidade, ou seja, onde
legitimam, quer para meios internos ou externos, a sua legitimidade a existir
como entidade autónoma e reconhecida.
O caso de Portugal é um dos
melhores, desde á Reconquista iniciada há quase 1000 anos, passando pela
conquista de Lisboa, os Descumprimentos, o domínio dos Filipes de Espanha, a
Restauração, a queda da Monarquia e estabelecimento da República, a Guerra
Colonial, o 25 de Abril, e todos os tratados, homens e acontecimentos derivados
de toda a nossa história são marcos que erguem pilares da nossa identidade, independência
como Estado e legitimam as nossas leis, a nossa existência e o facto de
podermos dizer que somos quem somos, quer tenhamos gostado ou não, quer concordemos
ou não, durante centenas de anos, os portugueses têm vindo a construir a sua
identidade, o que permite uma maior paz interna e coesão nacional.
No caso dos EUA o caso é muito
diferente.
Os EUA estabelecem-se como um Estado
independente a 4 de Julho de 1776 (há 241 anos), o que faz de si um dos Estados
mais novos do globo, este período de tempo é relativamente pequeno no que toca
á construção de uma identidade nacional, especialmente quando os EUA são na sua
esmagadora maioria um país de emigrantes, sendo que ser 3ª geração americana é
considerado como ser americano há muito tempo.
Para agravar ainda mais a situação,
os EUA sofreram enormes mudanças internas ao logo dos anos de existência,
tiveram que combater os nativos americanos, os mexicanos, os franceses e
tiveram uma guerra civil, isto tudo antes da primeira guerra mundial (128
anos).
A guerra civil americana decorreu de
1861 a 1865, tendo os EUA 85 anos de existência, muito pouco tempo para um
Estado amadurecer, especialmente nas condições dos EUA.
A Confederação forma-se em oposição
ao governo Republicano da União liderado por Lincon, este que visava uma proibição da proliferação do trabalho
escravo nos Estados do Sul, os Estados do Sul (Virgínia e a Sul deste Estado) possuíam
uma economia baseada na produção de algodão, este que derivava na sua
esmagadora maioria de plantações que eram trabalhadas por escravos.
Desta forma pode-se perceber como os
Estados Confederados aparecem como os racistas, visto que pretendiam proteger a
escravatura que, na sua maioria, assentava sobre Africanos (Não podemos também
esquecer que é verdade que também existiam, no Sul, negros que teriam escravos).
É de notar no entanto que, apesar de
existir racismo, os escravos eram vistos como um meio de produção barato, caso
existisse um outro meio mais rentável ter-se-ia tomado esse meio, no entanto
não podemos afirmar que todos os donos de escravos ter-se-iam desfeito dos seus
escravos se assim fosse.
Desta forma podemos já desarmar os
grupos BLM e Antifa quanto às suas generalizações de Racismo totalitário por
parte de todo o Sul.
Os Estados Confederados viam a sua
economia ameaçada, e tinham razão, tanto que no final da guerra e com a
abolição da escravatura o Sul mergulhou numa crise económica de tais proporções
que ainda nos dias de hoje se sente, passando de ser uma das zonas mais ricas
do mundo para uma das mais pobres, isto pela incapacidade ou falta de vontade
da União de arranjar meios alternativos para a produção da principal indústria
do Sul.
Esta queda levou a que as populações
do Sul, para além da ocupação militar que sofreram, perdessem imensa qualidade
de vida, quer os proprietários de plantações quer as populações que nunca teriam
tido escravos, afectando igualmente as populações escravizadas que a guerra
visava libertar.
Mas passemos á memória histórica e
ao que significa esta guerra para as populações do Sul.
A Guerra Civil Americana ficou assim
conhecida porque a União ganhou a guerra após a rendição do General Robert E.
Lee.
No Sul, e para os Estados
Confederados em 1861, a Guerra Civil, chamou-se de 2ª Guerra de Independência.
Isto tem muito que se lhe diga e um
impacto para os Estados que fizeram parte da Confederação, impacto este
completamente desconhecido ou negado/descartado pelos grupos BLM e Antifa, e que explica muitas das reacções contra estes grupos das
populações actuais do Sul.
No início da década de 1930 muitas
das estátuas que estes grupos querem derrubar foram erguidas em homenagem aos
militares que perderam a sua vida, ainda com Veteranos vivos, Veteranos esses
que combateram pelo seu Estado.
Aqui é que começa a ficar
interessante.
Robert E. Lee foi chamado a assumir
o comando de 75 mil homens para combater os revoltosos do Sul (assim eram
chamados pelo governo a União). Robert E. Lee, ainda Coronel, recusou assumir
este Comando. Será que era Racista?
De maneira nenhuma, Robert E. Lee
libertou todos os seus escravos e era famoso por ser contra a escravidão. O então
Coronel recusa esta enorme Comissão porque o Exército que estava a ser
levantado teria como principal missão invadir territórios americanos e ocupar
os mesmos como se de uma terra estrangeira fossem e, um desses territórios era
o Estado da Virgínia, Estado do qual Robert E. Lee era originário.
O Coronel Lee recusa-se a assumir o
Comando destes 75 mil homens porque não se atreve a invadir a sua casa, segundo
o mesmo, e apesar de ser um militar leal que ama os EUA, este militar ama mais
a sua casa, e no final do dia a sua lealdade assentava com a sua casa primeiro
e depois com os EUA.
Este era um sentimento que era geral
no Sul, cada homem amava mais o seu Estado que os EUA, e viam o governo
Republicano como uma ameaça á sua casa, assim, e em reacção ao que agora percebiam
como sendo um invasor externo, os estados do Sul uniram-se na conhecida
Confederação.
Esta “2ª Guerra da Independência”
como ainda é conhecida no Sul é, para falta de mais algum, o pilar central da
identidade Pátria dos Estados do Sul, a negação desta sua herança, quer
concordem ou não com ela, é negar a sua existência como indivíduos e como
Estado.
A remoção da Estátua de um Herói
nacional como o General Robert E. Lee que é talvez visto como o D. Afonso
Henriques dos Estados do Sul seria, de certo modo, como a remoção da estátua de
Viriato em Viseu ou como a estátua de D. Afonso I que está em Guimarães,
argumentando que é uma ofensa contra uma minoria.
Seria impensável a remoção destes
monumentos portugueses para o povo que se identifica como português, tal como a
remoção da estátua do General Robert E. Lee é impensável para uma grande e
forte população dos Estados da antiga Confederação.
Apesar de existirem racistas e
supremacistas brancos nos movimentos à direita que se apresentaram em
Charlottesville, muitos dos que se apresentavam contra o grupo BLM e Antifa faziam-no, não por serem racistas como afirmam esses grupos,
mas porque vêm a sua identidade, história e liberdade a serem atacadas por
identidades que eles mais uma vez começam a perceber como exteriores.
Estes factos são completamente
ignorados pelos grupos reconhecidos como à Esquerda do espectro político, visto
que desarmam as suas narrativas de racismo e xenofobia muito rapidamente.
Qualquer população que quer ter estabilidade
no seu seio tem que ter pilares identitários que não podem ser simplesmente destruídos
por narrativas fracas, para mais num contexto como é oi dos EUA, isto apenas
gera mais conflito.
A História serve, em parte para
isto, para assegurar que, compreendendo a história de uma comunidade, coisas
destas não aconteçam.
Deve ser dito que, este tipo de
manifestações, não só em Charlottesville, mas por todo o EUA, têm sido a causa
de mortes desnecessárias, mortes que neste caso, com um conhecimento correcto
da história e do seu impacto poderia ter poupado muitos problemas, estragos,
feridos, um morto e a provocação de um conflito contra populações que se
calhar, até agora, se teriam mantido à parte destes confrontos mas, vendo
ameaçada a sua identidade, herança e história se vêm, mais uma vez, a ter que
se levantarem.