terça-feira, 22 de agosto de 2017

Reviver o passado no Afeganistão ou os estranhos poderes da sala oval

Donald Trump anunciou ontem a manutenção das tropas norte americanas no Afeganistão, salientando mesmo a necessidade de se reforçar o contingente norte-americano neste país. Isto é surpreendente e, no meu entender, lamentável.

Interessa-me assim perceber o que levou o presidente americano a se contradizer em relação a tudo o que disse sobre este assunto desde 2011. Reflectindo chego a conclusão que a razão se chama China.

Trump desde o início da sua presidência que apontou a China como o grande challenger aos interesses norte-americanos no Mundo. Trump quer os EUA “grandes outra vez” no palco mundial e a China é – muito mais que a Rússia ou a EU – o grande problema com o seu poderio demográfico, financeiro  e económico. Xi Jiping tem se esforçado por aumentar a sua influência no Afeganistão, o que tem sido bem acolhido pelo governo afegão, seja ao nível económico seja diplomático, mediando o conflito afegão com o paquistão. Para Trump, estas são más noticias e toda a instabilidade que possa colocar na região, prejudica a economia regional e em particular a China e os seus esforços de influência.

A situação no Afeganistão é hoje extraordinariamente complexa. Não existe consistência ao nível do governo afegão, incapaz de se afirmar decididamente como estruturante actor estatal neste território, de onde se deduz o capital falhanço de anos e anos de intervencionismo. As quezílias entre os talibans são enormes e o ISIS encontra aqui também território propício para recuperar das derrotas que teve no Iraque e na Síria recentemente.

Neste contexto, os EUA deveriam deixar a situação afegã para a Rússia, a China e os estados locais resolverem, forçando estes países, que possuem grandes interesses estratégicos na região, a assumir o fardo de resolver a situação ou a viver com as consequências. Ao contrariar este óbvia estratégia Trump – e McMaster que acredito seja quem está por detrás de tudo isto - assume que pretende a instabilidade e a maquina de guerra oleada, nem que isso custe mais vidas a soldados norte-americanos.

Trump definiu esta fase da missão no Afeganistão como de "killing terrorist", e não de “…nation building again,”. O que isto garante, no meu entendimento, é que mais terroristas serão criados e a missão nunca acabará. Referiu ainda o presidente americano que os EUA devem policiar os países do outro lado do Mundo dado que eles podem dar abrigo aos terroristas. Estes são pressupostos intervencionistas que me são muito familiares; ouvi Barack Obama e Hillary Clinton repeti-los recorrentemente. Estes são pressupostos errados como foi provado no concreto.

Muitas vezes recordo as palavras e ideias do realista Barry Posen, Professor de Ciência Politica e Estudos de Segurança no MIT, autor do livro Restraint: A New Foundation for U.S. Grand Strategy. Tive esperanças que com Donald Trump essas palavras passariam a ser realidade. Errei. Ao que parece “the swamp drained Trump”. Steve Bannon que o diga.




Last night President Trump tried to smooth over his decision to keep the Afghanistan failure going by saying the U.S. government is not going to "nation-build." Well, of course they're not. How many nations have they really built, or even improved? The U.S. tears nations apart. Perpetual war has had many different slogans over the last 100 years. - Ron Paul, 23 /08/ 2017

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