domingo, 14 de maio de 2017

Quase 200 anos de hegemonia prussiana. Parte 1 – O Zollverein e Bismarck.

         Em 1834 o reina da Prússia, o poderio militar dos povos alemães decide criar uma união económica entre as dezenas de Estados que compõem hoje a Alemanha.
            Esta união não faz mais que regular as taxas alfandegárias entre os estados, regulando assim os preços, conseguindo estabilizar os preços e facilitar as trocas de pessoas e bens, criando uma comunidade económica.
            O reino da Prússia sai das guerras napoleónicas como uma das vencedoras, mas mesmo que as guerras napoleónicas vissem a vitória final de Napoleão, as consequências da guerra eram demasiadas para retrair a Prússia do seu futuro.  
            Quando o Imperador Napoleão decreta o bloqueio continental as economias europeias são obrigadas a adaptar-se a viver sem os bens que eram vendidos pela indústria de transformação inglesa, bens que não eram produzidos em mais lado nenhum.
              Estes bens eram na sua maioria tecidos, a produção de tecidos europeus estava totalmente nas mãos da Inglaterra, o que levou a uma falta de tecidos gravíssima depois do bloqueio continental.
            Esta medida de Napoleão visava destruir a máquina económica inglesa e por usa vez a vida urbana que mantinha as Forças Armadas inglesas a funcionar. A Inglaterra vivia quase que exclusivamente do mercado europeu. Impossibilitando o escoamento do seu quase que único produto para a Europa destruiria a economia inglesa.
            Por muita verdade que seja, o então reino da Prússia adaptasse, e entra na primeira vaga de industrialização para substituir a Inglaterra na produção de tecidos e mais tarde de outros bens para toda a Europa, usando para isto a sua rede de rios para fazer escoar os seus produtos pela Europa.
            A industrialização da Prússia representa a lógica da máquina industrial que vai suster a Alemanha na primeira e segunda Guerra Mundial.
            A primeira vaga de industrialização da Prússia cria um sistema que se aproveita da própria geografia prussiana, isto é, o aproveitamento dos rios para criar energia.
            Ao contrário da França em que a primeira industrialização levou a que uma população que estava fortemente urbanizada fugisse para os campos devido á fome, doença e desemprego nas cidades, na Prússia começam-se a formar fortes aglomerados de populações á volta dos rios, rios que viam crescer pequenas industrias financiadas por homens ricos (pertencentes á nobreza ou não) que financiavam estas pequenas industrias.
            O Estado da Prússia irá servir de catalisador. O Estado irá, a partir do banco do Estado da Prússia, gerar empréstimos para que estas pequenas indústrias consigam crescer.
            As indústrias funcionavam numa espécie de pirâmide. No topo estava o Estado que fornecia os contractos e investimentos. Estes investimentos eram feitos em empresas que se especializavam num artigo em específico. Por vezes, este artigo não seria vendido em separado, uma fábrica produzia um artigo que teria de ser produzido
            Assim todas as empresas funcionavam em conjunto para suprimir as necessidades do Estado Prussiano, conseguindo também levar a população.  
            No entanto, aceder a fundos estatais trazia consigo requisitos.
            Estes requisitos eram obra do Chanceler Otto Von Bismark.
            Bismarck nasceu na Prússia em 1815 no ceio de uma família aristocrática, o que lhe permitiu estudar e ascender na hierarquia social. A sua vida profissional começou com a sua entrada para o sector público do Estado prussiano, no entanto Bismarck acabaria por sair do sector público ao qual só voltaria na década de 1850 depois de casar.
            Voltaria como embaixador, servindo nas embaixadas do Império Russo e da França.
            Antes disto a Prússia começa a anexar vizinhos germânicos, invocando a desculpa do espírito Germânico, estabelecendo-se o Zollverein como parte deste espírito, e como ferramenta para escoar os bens da indústria prussiana para o resto dos Estados alemães que não tinham acompanhado esta evolução industrial.
            Estabelecido o Zollverein, os bens prussianos facilmente começam a chegar a todo o território do futuro Império Alemão.
            Com o Zollverein estabelecido Bismarck impõe certas regras à Industria.
            Estas regras vêm no seguimento de 1848 e do perigo que o Socialismo representava para Bismarck.
            No início da década de 1850 Bismarck volta á vida pública como Chanceler de Willhelm I da Prússia, falando no parlamento prussiano contra o Socialismo.
            Como forma de impedir que as populações urbanas que se tinham gerado pela industrialização prussiana provocada pelo bloqueio continental se revoltassem - e de forma a impedir que as industrias que sustentavam os Estado prussiano, quer devido aos fundos investidos, quer devido aos impostos recolhidos – Bismarck obriga a que todas as empresas forneçam serviços que hoje em dia são considerados normais.
            Pela primeira vez as empresas eram obrigadas a fornecer serviços de saúde, pensões por ferimento (as chamadas baixas) e reformas para a população que já não poderia trabalhar.
            Obrigando a que as empresas suprimissem todas e quaisquer necessidades que os seus trabalhadores tivessem, impossibilitando assim que os ideias socialistas e revolucionários entrassem nas populações urbanas, mantendo assim a base do Estado sólida.
            Do lado do Estado vinha o dinheiro. O Estado que era o maior comprador a estas industrias gera um sistema no qual as empresas prussianas ficam quase que dependentes dos contractos estaduais, contractos estes que ao longo dos anos começam a crescer, obrigando a que as empresas se adaptem, que cresçam e que sejam capazes de gerar um out put enorme, o que leva a que empresas maiores comprem empresas mais pequenas de modo a ser capazes de cumprir as encomendas estatais.
            É exactamente desta forma que hoje em dia funciona a Industria de Defesa dos Estados Unidos da América, a única diferença é que na Prússia, todos os sectores funcionavam desta forma, levando a que a industria se desdobrasse por todos os sectores e que fornecesse todos os produtos que a sociedade prussiana necessitasse, o que leva a que a Prússia no final do Séc. XIX seja praticamente auto sustentada.
            O advento da segunda revolução industrial, o uso do carvão e do ferro só vieram definir de vez a proeminência terrestre da Prússia e futura Alemanha, visto que o território Alemão onde se encontrava estabelecido o Zollverein era rico em carvão e ferro, o que permitia que facilmente fossem adquiridas as matérias-primas para as industrias.
            Em quanto Willhelm I foi Rei a Prússia participou em várias guerras que aumentaram as posses prussianas.
            Primeiramente combateu contra a Dinamarca pela aquisição de territórios no Norte, seguidamente na década de 1860 Bismarck instigou uma guerra contra o Império Austro-Húngaro que também ganhou, e finalmente em 1870 conseguiu que entre outros assuntos, devido á sucessão do trono espanhol, a França declarasse guerra á Prússia, guerra esta que Bismarck ganha, levando a uma total unificação dos territórios alemães, coroando-se Willhelm I Imperador da Alemanha e Bismarck o seu Chanceler em 1871.
            Os territórios ganhos na guerra contra a França deram á Alemanha ferro e especialmente carvão, o que impulsionou ainda mais a indústria alemã.
            No entanto em 1890 Bismarck desapareceria da vida política.
            Em 1884 e 1885 Bismarck como Chanceler alemão convida toda a Europa a reunir em Berlim para decidirem definitivamente como seria dividido o continente de África.
            Bismarck publicitou a Alemanha como o neutral (visto que Bismarck afirmava que a Alemanha era uma potencia terrestre e europeia, devendo continuar assim), de modo que seria a potência mais bem colocada para servir de árbitro nesta discussão.
            A divisão é feita e a Alemanha acaba por ficar com alguns territórios em África, mas que Bismarck vê como absorvedores de dinheiro, decidindo não aplicar grandes fundo públicos nas colónias alemãs, mas incentivando investidores privados a irem para as colónias e a explorares o terreno, de modo que surge o ditado de que “A Bandeira segue o comércio”, ou seja, a bandeira alemã só era hasteada onde um investidor alemão estivesse presente.
            No começo da década de 1890 o novo Kaiser, Willhelm II, literalmente despede Bismarck do posto de Chanceler da Alemanha, não gostando que Bismarck discordasse das suas opiniões.
            Willhelm II possuía ideias de expansão marítima para o Império Alemão. Invejoso da Frota do seu primo George V de Inglaterra, Willhelm II decide embarcar numa série de reformas e construção naval levando á criação das 4 leis navais que viriam a aparecer na primeira metade da década de 1890, estas ideias de expansão marítima advêm da influência de outro militar, o Almirante Von Tripitz, este que irá substituir Bismarck como Chanceler Alemão.
            Bismarck acabará morrer poucos anos depois, mas Bismarck e o Zollverein possibilitaram que a Prússia crescesse até se tornar no Império Alemão, através de guerra, e de uma Estratégia económica e financeira que colocou a Prússia na frente da Europa continental.
            Assim, ainda hoje, a Alemanha é a grande Prússia. 


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