Tornou-se popular a análise que o
ataque de mísseis dos EUA na sexta-feira a uma base aérea síria constitui um aviso
directo a Bashar Al Assad, Vladimir Putin e também a Kim Jong-un. Aos
próximos testes nucleares da Coreia do Norte, Trump poderia agir emconformidade.
Não me parece que está seja a
decisão mais inteligente porque a Coreia do Norte não é a Síria. E isto nada tem
a ver com as personalidades de Kim e Assad mas sim, pelo contexto de poder
militar e geográfico da região. A
diplomacia será aqui a solução.
Se Damasco ainda conta com misseis e
aviões russos para defender seu espaço aéreo, já a Coreia do Norte não tem qualquer
hipótese de combater os ataques aéreos dos EUA dadas as conhecidas
debilidades militares dos seus radares, dos seus mísseis anti-aéreos e dos seus
caças.
Claro que pode contar com a
China, que tem sido essencial para a sobrevivência de Pyongyang, mas o facto é
que a China nem sempre tem estado satisfeita com um aliado que ameaça permanentemente
o Japão, a Coreia do Sul e bases dos EUA no Pacífico, instabilizando uma região
muito para além da vontade de Xi Jiping. Esta instabilidade é uma das responsáveis
pelo exponencial investimento militar nesta região e pela continuada presença
das forças americanas. À China não lhe interessa nada isto.
Tudo indica que os mísseis
norte-coreanos conseguem atingir alvos até 10000 km de distância e são,
portanto, capazes de atingir o território norte-americano como é o caso do Havaí ou mesmo da California. Se um desses
dispositivos escapar a um ataque preventivo americano, Kim Jong-un teria capacidade para atacar os EUA com uma arma atómica.
É certo que todos os arsenais
nucleares têm como objectivo a dissuasão e não o ataque e Pyongyang acelerou
dramaticamente nos últimos anos o seu próprio programa nuclear para dissuadir EUA
de a atacar, ameaçando com retaliações devastadoras, não só a estes mas também
os seus inimigos regionais e Kim tem feito variados testes nucleares apresentados como acções de sucesso.
Mesmo admitindo que um primeiro
ataque dos EUA é capaz de neutralizar todo o arsenal de mísseis
nucleares-terrestre - mesmo os moveis - acredito que outros mísseis balísticos poderão
ser enviados a partir de alguns dos setenta submarinos da marinha da Coreia do
Norte.
O
problema central chama-se Seul. Será impossível, dada a sua distância, impedir Kim Jong-un de
desencadear retaliações contra a cidade de Seul usando armas químicas .
A capital sul-coreana situa-se a algumas
dezenas de quilómetros da fronteira do paralelo 38 e é vulnerável a artilharia
norte-coreana que se localiza ao longo da fronteira em posições escavadas nas
rochas o que torna muito difícil de detectar e atacar pelo ar.
Não quero aceitar o que
aconteceria a Seul, habitada por 11 milhões de pessoas, se fosse alvo de
centenas de ataques químicos enviados em desespero final pelas forças da Coreia
do Norte.
Mesmo a mobilização rápida de
todos os sistemas de defesa de mísseis em prontidão na região e presentes na Coreia do Sul e no Japão,
bem como dos navios da 7º frota, seriam incapazes de interceptar os muitos mísseis
balísticos enviados sendo impossível proteger Seul de um ataque químico realizado do outro
lado da fronteira.
Os custos de uma opção militar
são no meu entender inaceitáveis. Como potência regional que é, apenas a China
pode "desarmar" a Coreia do Norte. Assim, Trump deve ponderar muito
bem os riscos de aventuras militares "punitivas" contra Pyongyang não
só pelas possíveis reacções de Pequim, mas especialmente pelos
arsenais atómicos e químicos de Kim Jong-un que causariam imenso dano à Coreia do
Sul. Tenho a certeza que isto terá sido falado entre ambos num recente jantar.
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