sexta-feira, 7 de abril de 2017

Assad, Erdogan e Putin: O novo triângulo das Bermudas.

Os ataques por parte de forças americanas sobre uma base aérea Síria está a disputar imensa controvérsia na comunidade internacional.
Putin foi o primeiro a vir a público a condenar o ataque americano à Síria, e obviamente também Assad condenou o ataque. A Turquia no entanto veio a público defender o ataque americano.      

Isto denota as fraquezas que existem no flanco Sul russo. Não se pode esquecer que o Cáucaso é a entrada da Rússia no Médio Oriente, e a Síria é a sua ‘cabeça de praia’ actuando como uma zona tampão entre o Estado russo e as ameaças mais directas (DAESH) do Médio Oriente.

A Síria serve assim de profundidade estratégica para a Rússia, algo perdido com a queda da URSS.

O problema da Rússia nos últimos anos tem sido no entanto a Turquia. A Turquia é para todos os teóricos geopolíticos russos um inimigo, de tal modo que em 2004 Alexander Dugin - o homem que é tido como cabecilha da política externa russa no Médio Oriente – afirmava que a Turquia tinha de ser desmantelada com base a apoios a grupos subversivos dentro da Turquia, movimentos estes apoiados pela Rússia.

Mas a sua visão tem vindo a mudar nos últimos 10/12 anos, visto que o próprio Alexander Dugin tem vindo a organizar viagens de diplomatas turcos à Rússia, mas isto também tem de ser metido em contexto, visto que, os únicos estados para além do estado russo que dá ouvidos e decide perceber Dugin é o Estado da Turquia, Irão e EUA, como tal um Presidente como é Erdogan que toma o poder quase total para si, impossibilita em muito esse apoio a movimentos subversivos dentro da Turquia, e visto que não se pode desfazer a Turquia, tem que se viver com ela.

A Turquia apesar de ter visto no seu território a morte de um diplomata russo e de ter recebido um perdão russo pelo facto da Rússia precisar desta (por não a conseguir dividir e destruir) continua a ser 

Esta unidade singular está na NATO, e possui uma das maiores industrias de Defesa/Guerra do mundo (depois de um investimento e política a 30 anos), que lhe possibilita fornecer os meios necessários para combater uma guerra no seu contexto, mas ainda mais importante, tem a capacidade para manter isoladamente essa guerra por um período de tempo suficiente para desequilibrar toda a zona onde consegue actuar.

Assim a Turquia desenvolve capacidades e vontade de fazer actuar essas capacidades em contextos específicos, portanto tendo força e vontade tem também poder.

Este poder turco é a sua defesa, e estando defendida, a Turquia pode perseguir os seus ódios, e um dos seus grandes ódios é a Síria, esta que como já dito é a grande amiga russa na região.

A Síria tem vindo a sofrer ataques por parte da Turquia nos últimos anos, sendo que estes ataques apenas abrandaram devido a pressões russas, visto que a Rússia precisa de estabilidade no seu flanco Sul.

Deste modo vê-se que mesmo existindo uma Turquia amiga da Rússia, esta quer manter para si espaço de manobra estratégica visto que a Turquia tem ainda como objectivo o fim da Síria.

Mas outro ponto que tem de ser tido em conta são os avisos americanos.

Os EUA avisaram a Rússia e outros sobre os ataques de modo a que a Rússia retirasse as suas forças de perto do local de impacto, e mesmo sendo muito cedo para saber se a Rússia deliberadamente suprimiu essa informação da sua aliada ou se Assad deixou que este ataque apanhasse a base aérea desprevenida de propósito para provocar alguma reacção.

No entanto mantém-se o paradigma da Rússia ter sido avisada, isto demonstra que animosidade americana não tem como alvo a Rússia, e como já dito, Assad é para a Rússia, em ultimo caso, uma moeda de troca. Assim sendo este triângulo geográfico e político demonstra ter a capacidade de realizar eventos que possuem explicações que escapam à esmagadora maioria, mesmo aos especialistas.
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A Rússia precisa de manter o estreito dos Bósforo como um estreito amigável, visto que possui o canal do Suez nas mãos de um outro amigo, o Egipto.

 Estes dois pontos são chave para a saída da Rússia para o Indico, um local que o próprio Alexander Dugin tem vindo a dizer que é um dos grandes objectivos russos.

 Deste modo o triângulo Assad, Erdogan, Putin tem de ser gerido muito bem pelo último, sendo que a lógica do Presidente Trump é de acção assertiva e por isso Putin tem duas hipóteses.

A primeira hipótese é a de se manter fiel a Assad, como já fez anteriormente, mas vê-se assim frente a frente com uma América que já demonstrou não recuar, possuindo no seu flanco Sul dois Estados que não se conseguem entender e por isso são instáveis, para além de que a Turquia é um país NATO e assim sendo um redireccionamento de maior inclusão nesta e com os EUA nunca está fora da mesa.

A Segunda hipótese de Putin é manter Assad em cima da mesa, mantendo este no poder até conseguir arranjar um sucessor que permita a Putin reorganizar a geografia política da zona a seu favor de maneira a manter os EUA e a NATO fora do Médio Oriente, algo que tem vindo a conseguir. No final ninguém faz futurologia, e apenas se pode trabalhar com o que se tem.

Tal como no Triângulo das Bermudas em que muito acontece sem explicação e sem ter qualquer razão aparente, também nesta zona se tem vindo a desenvolver (com os últimos eventos como catalisador) um paradigma de grande incerteza.

Nunca se deve esquecer que as inimizades russas e turcas tem vários séculos, e tal como a Rússia tem memória histórica, também a Turquia o tem, e Assad até á intervenção efectiva russa estava á beira de ser deposto.

Temos que ser realistas. Assad está no poder porque assim o convém a Putin. Se Putin achar que Assad não lhe serve mais, então poderá retirar Assad, indo ao encontro do que a Turquia e os EUA desejam.

Com os EUA sem desculpa imediata ou directa para actuar Putin consegue manter a sua hegemonia na região, assegurando matérias-primas e linhas de comércio, conseguindo também um apaziguar da Turquia e por sua vez uma passagem pelo Bósforo segura e garantida.

No entanto tudo pode acontecer.



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