sábado, 15 de abril de 2017

Realism is the new black III ( ainda os conceitos como eles são)

Em termos de domínio regional do Golfo não existe qualquer ameaça nacional, o que significa que Trump devia remover a grande maioria das forças militares dos EUA daquela região, colocando unicamente algumas forças offshore. Os Estados Unidos monitorizariam o equilíbrio regional de longe e só reintroduziriam tropas no caso de um país se apresentar como claramente agressivo e com pretensões hegemónicas. Esta política deequilíbrio offshore, juntamente com o fim das “mudança de regime a pataco”, iria melhorar em muito o problema do terrorismo que é alimentado em grande parte pela forte presença militar dos EUA no território árabe, bem como nas guerras sem fim que os Estados Unidos travam no Médio Oriente.

Trump deveria permitir que os países regionais lidassem com o Daesh e limitar os seus esforços ao fornecimento de informações, treino e armas. O Daesh é uma séria ameaça para o Médio Oriente, Europa e Africa, mas um problema menor para a América, e a única solução a longo prazo é a construção de melhores organizações estatais e efectivas economias de mercado livre, algo que os Estados Unidos não podem criar. Em relação à Síria, Washington deve deixar Moscovo assumir a liderança na resolução desse conflito, o que significa ajudar o governo de Assad a restabelecer o controle sobre a maior parte do país. Uma Síria administrada por Assad não representa uma ameaça para os Estados Unidos; De fato, os presidentes democratas e republicanos têm longa experiência de lidar com o regime de Assad. Se a guerra civil continuar será grandemente Moscovo a sofrer as consequências.

Ao contrário do que vamos observando, o presidente americano também devia trabalhar para melhorar as relações com o Irão. Não é do interesse dos EUA que o Irão abandone, ou não renove, o acordo nuclear que recentemente estabeleceu. Teerão abandonará o acordo e voltará a investir seriamente em armas nucleares caso espere um ataque americano. É um facto que as armas nucleares são essencialmente um elemento de dissuasão e portanto, os Estados Unidos deveriam tentar manter boas relações com o Irão para que este não tenha qualquer incentivo para aquisição deste tipo de armas.

Há, no entanto, más notícias no que diz respeito à Ásia Oriental. Se a China continuar a sua impressionante ascensão, é provável que tente dominar a Ásia da maneira como os Estados Unidos dominam o Hemisfério Ocidental. O governo Trump deve fazer grandes esforços para evitar que a China se torne uma hegemonia regional, contando com a ajuda de Seul, Tóquio e mesmo Nova Deli.

O problema da Coreia do Norte é uma questão regional, que deverá ser gerida pelos países da Asia Oriental. Entendo que agitar a Coreia do Norte pode causar problemas à China – algo que agrada a Trump -  mas, causará também questões sérias à Coreia do Sul e ao Japão. Estará Trump e os seus homens como Tillerson, Mattis e McMaster disponíveis para gerirem os problemas que causarem a estes seus aliados só para perturbar a China? Não me parece sensato.

Esta estratégia para conter a China, poderá não funcionar. Não só a China é muito mais poderosa do que os seus vizinhos, mas também estes estão distantes uns dos outros geográfica e culturalmente, dificultando a formação de uma coalização. Os Estados Unidos terão que coordenar esses esforços, com diplomacia e poder militar. A liderança americana é indispensável para lidar com uma China cada vez mais poderosa.

O fato de nenhum país ameaçar dominar a Europa ou o Golfo é uma bênção para os EUA, pois não só permite que Washington concentre as suas forças militares na Ásia, mas também permite que os políticos norte-americanos concentrem seu pensamento estratégico sobre como impedir que a China se torne um concorrente à escala Mundial. Essa missão deve ser central para os Estados Unidos nos próximos anos.

O fim da bipolaridade URSS-EUA trouxe de novo ao Mundo a multipolaridade, com as suas tensões e receios entre Estados soberanos. A crise económica e financeira de 2007/2008 trouxe a desesperança num crescimento continuo. Este é o ambiente natural para a emergência do Realismo nas Relações Internacionais. Neste contexto de tensões e nervos, é minha opinião que, se a atitude liberal e neo-com intervencionista prevalecer na administração Trump, haverá mais terrorismo, mais tentativas fracassadas de espalhar a democracia, mais guerras perdidas e mais mortes e destruição em todo o Oriente Médio e graves consequências na Europa e no Norte de Africa. Mais importante, será difícil para os Estados Unidos se concentrarem em conter a China, principalmente porque os políticos, diplomatas e militares americanos com esta estratégia têm de estar em toda parte, preocupados com tudo e todos. Não me parece de facto ser a melhor opção. Para nós Portugueses e Europeus garantidamente não é.


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