Em termos de domínio regional do
Golfo não existe qualquer ameaça nacional, o que significa que Trump devia
remover a grande maioria das forças militares dos EUA daquela região, colocando
unicamente algumas forças offshore. Os Estados Unidos monitorizariam o equilíbrio
regional de longe e só reintroduziriam tropas no caso de um país se apresentar
como claramente agressivo e com pretensões hegemónicas. Esta política deequilíbrio offshore, juntamente com o fim das “mudança de regime a pataco”, iria
melhorar em muito o problema do terrorismo que é alimentado em grande parte
pela forte presença militar dos EUA no território árabe, bem como nas guerras
sem fim que os Estados Unidos travam no Médio Oriente.
Trump deveria permitir que os países regionais lidassem
com o Daesh e limitar os seus esforços ao fornecimento de informações, treino e
armas. O Daesh é uma séria ameaça para o Médio Oriente, Europa e Africa, mas um
problema menor para a América, e a única solução a longo prazo é a construção
de melhores organizações estatais e efectivas economias de mercado livre, algo
que os Estados Unidos não podem criar. Em relação à Síria, Washington deve
deixar Moscovo assumir a liderança na resolução desse conflito, o que significa
ajudar o governo de Assad a restabelecer o controle sobre a maior parte do
país. Uma Síria administrada por Assad não representa uma ameaça para os
Estados Unidos; De fato, os presidentes democratas e republicanos têm longa
experiência de lidar com o regime de Assad. Se a guerra civil continuar será
grandemente Moscovo a sofrer as consequências.
Ao contrário do que vamos observando, o presidente
americano também devia trabalhar para melhorar as relações com o Irão. Não é do
interesse dos EUA que o Irão abandone, ou não renove, o acordo
nuclear que recentemente estabeleceu. Teerão abandonará o acordo e voltará
a investir seriamente em armas nucleares caso espere um ataque americano. É um
facto que as armas nucleares são essencialmente um elemento de dissuasão e portanto,
os Estados Unidos deveriam tentar manter boas relações com o Irão para que este
não tenha qualquer incentivo para aquisição deste tipo de armas.
Há, no entanto, más notícias no que diz respeito à Ásia
Oriental. Se a China continuar a sua impressionante ascensão, é provável que
tente dominar a Ásia da maneira como os Estados Unidos dominam o Hemisfério
Ocidental. O governo Trump deve fazer grandes esforços para evitar que a China se
torne uma hegemonia regional, contando com a ajuda de Seul, Tóquio e mesmo Nova
Deli.
O problema da Coreia do Norte é uma questão regional, que
deverá ser gerida pelos países da Asia Oriental. Entendo que agitar a Coreia do
Norte pode causar problemas à China – algo que agrada a Trump - mas, causará também questões sérias à Coreia
do Sul e ao Japão. Estará Trump e os seus homens como Tillerson, Mattis e McMaster
disponíveis para gerirem os problemas que causarem a estes seus aliados só para
perturbar a China? Não me parece sensato.
Esta estratégia para conter a China, poderá não funcionar.
Não só a China é muito mais poderosa do que os seus vizinhos, mas também estes estão
distantes uns dos outros geográfica e culturalmente, dificultando a formação de
uma coalização. Os Estados Unidos terão que coordenar esses esforços, com
diplomacia e poder militar. A liderança americana é indispensável para lidar
com uma China cada vez mais poderosa.
O fato de nenhum país ameaçar dominar a Europa ou o Golfo
é uma bênção para os EUA, pois não só permite que Washington concentre as suas forças
militares na Ásia, mas também permite que os políticos norte-americanos concentrem
seu pensamento estratégico sobre como impedir que a China se torne um concorrente
à escala Mundial. Essa missão deve ser central para os Estados Unidos nos
próximos anos.
O fim da bipolaridade URSS-EUA trouxe de novo ao Mundo a
multipolaridade, com as suas tensões e receios entre Estados soberanos. A crise
económica e financeira de 2007/2008 trouxe a desesperança num crescimento
continuo. Este é o ambiente natural para a emergência do Realismo nas Relações
Internacionais. Neste contexto de tensões e nervos, é minha opinião que, se a
atitude liberal e neo-com intervencionista prevalecer na administração Trump,
haverá mais terrorismo, mais tentativas fracassadas de espalhar a democracia,
mais guerras perdidas e mais mortes e destruição em todo o Oriente Médio e graves
consequências na Europa e no Norte de Africa. Mais importante, será difícil
para os Estados Unidos se concentrarem em conter a China, principalmente porque
os políticos, diplomatas e militares americanos com esta estratégia têm de estar em toda parte, preocupados
com tudo e todos. Não me parece de facto ser a melhor opção. Para nós Portugueses
e Europeus garantidamente não é.
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