quinta-feira, 6 de abril de 2017

Assad: Cara ou Coroa. Moeda de troca ou aliado.

Apesar da próxima relação que se tem verificado entre Assad e Putin, e da necessidade que Putin tem da Síria e que o regime de Assad tem de Putin, é necessário olhar para a Rússia pelo que ela é.
            A Rússia é um país com interesses próprios que decide por vontade própria não se enquadrar no Sistema Internacional, como tal, necessita de fomentar as suas alianças e blocos de interesse.
            Aparentemente a pedra basilar deste bloco de interesses é a Síria, não sendo para ninguém um espanto a investida da Rússia para o Médio Oriente, muito menos depois da retirada dos EUA do teatro de operações do Iraque, mantendo apenas forças consideráveis no Afeganistão (devido á sua proximidade com o Paquistão).
            Os EUA foram durante os últimos 15 anos os principais actores no Médio Oriente. Uma zona de grande riqueza em termos de matérias-primas, mas também uma zona vias de passagem para mercadorias (como a nova Silk Road chinesa). Para além de ser um vasto território que controla o acesso ao Mediterrâneo e ao Indico, para além de controlar a entrada Leste de África.
            Assim o controlo do Médio Oriente representa uma necessidade vital para qualquer potencial mundial e que aspire a algum tipo de hegemonia.
            A passagem e entrada da Rússia no Médio Oriente é a Síria, e para isso, muita publicidade tem sido feita á relação Putin-Assad. Mas será esta relação de aliança verdadeira?
            Ora veja-se a história da Rússia e da Síria.
            A quando da queda da URSS a sua herdeira, a Rússia, afasta-se dos contactos que a URSS possuía no MO, abrindo a porta para a Europa e EUA entrarem no Médio Oriente. Mas há que atentar que um dos contactos que sempre se manteve foi com a família Assad.
            Este contacto manteve-se mesmo na década de 90 do Séc. passado com Yeltsin que promovia uma Rússia mais europeia.
            Mas este contacto e associação veio a ser usado como um vector de política externa por Vladimir Putin, que sobe ao poder em 1999.
            A atitude de Putin é de Realpolitk. Um homem do KGB, criado na ideologia da URSS e influenciado muito por Alexander Dugin, um cabecilha da escola Eurasiática russa, uma escola expansionista que pretende confrontar o domínio unilateral dos EUA, Dugin por sua vez é também muito influenciado por autores como Mackinder ou Spykman.
            Putin via-se até á muito pouco tempo a enfrentar Obama, um homem que tinha uma política muito anti Rússia, tentando impedir que esta se afirmasse como uma Super Potencia, algo que Putin quer.
            Assad é no meio de isto tudo a moeda de troca de Putin em negociações com os EUA, mas também o seu principal aliado contra os EUA.
            A quando dos ataques químicos que Assad ordenou sobre as populações Suni - populações contra as quais Putin já tinha combatido na Geórgia – Os EUA na figura de Obama quiseram desarmar Assad, sendo que para isso fizeram um acordo com Putin, acordo esse que se baseava na premissa de que Putin ajudaria e influenciaria Assad a desarmar e Putin fazia chegar o armamento químico aos americanos que desmantelariam esse armamento em troca da posição favorável da administração Obama a uma emergência da Rússia no concelho dos G8 e reconhecimento da Rússia como uma Super Potencia e força regional com direitos inerentes.
            O que Obama deveria dar a Putin não foi dado. Putin cumpre a sua parte do acordo usando a influência que tem com o seu aliado, mas Obama que navegava na crista da onda da imponência americana e no espírito de bem feitor e guardião do planeta, puxa para que Putin retire Assad do poder por completo. Neste caso na Rússia vê-se insultada, mais uma vez, para além de ser remetida por Obama e pelos EUA quase para um papel de servente dos EUA (caso obedecesse).
            A Rússia é um Estado muito orgulhoso (factor que muitos decidem deliberadamente esquecer), de modo que a sua reacção foi a de virar as costas a Obama e apoiar o seu aliado Assad. Reforçando assim a sua posição na região e cria também a imagem de que a Rússia é um aliado de confiança.
            A Rússia usa também a desculpa de combater o DAESH para justificar a sua intervenção no Médio Oriente (para isso recomendo a leitora da ‘new-type of war’, uma doutrina militar desenvolvida pelos russos depois de observar os falhanços americanos no Médio Oriente). Esta desculpa oferece a Putin uma face de justiceiro, face essa que os EUA, em muito por culpa de liberais como Hillary Clinton e Obama, tem vindo a perder.
            A retirada dos EUA ajudou em muito o avanço da Rússia para o Médio Oriente. Esta descida foi impulsionada devido á falta de resposta efectiva da Europa e dos EUA depois da invasão da Crimeia pela Rússia, utilizando tácticas desenvolvidas no âmbito da ‘New-Type of War’ russa.
            A inutilidade do Sistema Internacional e a fraca resposta da Europa só deu mais animo a Putin.
            E Assad?
            A Rússia desenvolveu um paradigma interessante, visto que Putin agora apresenta uma escolha á comunidade internacional (ainda mais com os recentes bombardeamentos químicos de Assad). Ou a comunidade Internacional (Europa e EUA) condena Putin e a Rússia pelo apoio a Assad e por sua vez condena o combate contra o DAESH e o Terrorismo que é levado a cabo na Síria sobre o pretexto de apoio a Assad, ou permite que este apoio e combate continue.
            A escolha é Assad ou o Terrorismo, ambas as escolhas más para a comunidade internacional, mas que pouco aleijam a Rússia.
           Com o novo Presidente Trump e a sua política de cordialidade e boas relações com a Rússia em termos iguais, a Rússia pode muito bem meter tudo sobre a mesa e Assad, pelo menos no início, estará em cima da mesa.

           

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