Apesar
da próxima relação que se tem verificado entre Assad e Putin, e da necessidade
que Putin tem da Síria e que o regime de Assad tem de Putin, é necessário olhar
para a Rússia pelo que ela é.
A Rússia é um país com interesses
próprios que decide por vontade própria não se enquadrar no Sistema
Internacional, como tal, necessita de fomentar as suas alianças e blocos de
interesse.
Aparentemente a pedra basilar deste
bloco de interesses é a Síria, não sendo para ninguém um espanto a investida da
Rússia para o Médio Oriente, muito menos depois da retirada dos EUA do teatro
de operações do Iraque, mantendo apenas forças consideráveis no Afeganistão
(devido á sua proximidade com o Paquistão).
Os EUA foram durante os últimos 15
anos os principais actores no Médio Oriente. Uma zona de grande riqueza em
termos de matérias-primas, mas também uma zona vias de passagem para
mercadorias (como a nova Silk Road
chinesa). Para além de ser um vasto território que controla o acesso ao
Mediterrâneo e ao Indico, para além de controlar a entrada Leste de África.
Assim o controlo do Médio Oriente
representa uma necessidade vital para qualquer potencial mundial e que aspire a
algum tipo de hegemonia.
A passagem e entrada da Rússia no
Médio Oriente é a Síria, e para isso, muita publicidade tem sido feita á
relação Putin-Assad. Mas será esta relação de aliança verdadeira?
Ora veja-se a história da Rússia e
da Síria.
A quando da queda da URSS a sua
herdeira, a Rússia, afasta-se dos contactos que a URSS possuía no MO, abrindo a
porta para a Europa e EUA entrarem no Médio Oriente. Mas há que atentar que um
dos contactos que sempre se manteve foi com a família Assad.
Este contacto manteve-se mesmo na
década de 90 do Séc. passado com Yeltsin que promovia uma Rússia mais europeia.
Mas este contacto e associação veio
a ser usado como um vector de política externa por Vladimir Putin, que sobe ao
poder em 1999.
A atitude de Putin é de Realpolitk. Um homem do KGB, criado na
ideologia da URSS e influenciado muito por Alexander
Dugin, um cabecilha da escola Eurasiática russa, uma escola expansionista
que pretende confrontar o domínio unilateral dos EUA, Dugin por sua vez é também muito influenciado por autores como Mackinder ou Spykman.
Putin via-se até á muito pouco tempo
a enfrentar Obama, um homem que tinha uma política muito anti Rússia, tentando
impedir que esta se afirmasse como uma Super Potencia, algo que Putin quer.
Assad é no meio de isto tudo a moeda
de troca de Putin em negociações com os EUA, mas também o seu principal aliado
contra os EUA.
A quando dos ataques químicos que
Assad ordenou sobre as populações Suni - populações contra as quais Putin já
tinha combatido na Geórgia – Os EUA na figura de Obama quiseram desarmar Assad,
sendo que para isso fizeram um acordo com Putin, acordo esse que se baseava na
premissa de que Putin ajudaria e influenciaria Assad a desarmar e Putin fazia
chegar o armamento químico aos americanos que desmantelariam esse armamento em
troca da posição favorável da administração Obama a uma emergência da Rússia no
concelho dos G8 e reconhecimento da Rússia como uma Super Potencia e força
regional com direitos inerentes.
O que Obama deveria dar a Putin não
foi dado. Putin cumpre a sua parte do acordo usando a influência que tem com o
seu aliado, mas Obama que navegava na crista da onda da imponência americana e
no espírito de bem feitor e guardião do planeta, puxa para que Putin retire
Assad do poder por completo. Neste caso na Rússia vê-se insultada, mais uma
vez, para além de ser remetida por Obama e pelos EUA quase para um papel de
servente dos EUA (caso obedecesse).
A Rússia é um Estado muito orgulhoso
(factor que muitos decidem deliberadamente esquecer), de modo que a sua reacção
foi a de virar as costas a Obama e apoiar o seu aliado Assad. Reforçando assim
a sua posição na região e cria também a imagem de que a Rússia é um aliado de
confiança.
A Rússia usa também a desculpa de
combater o DAESH para justificar a sua intervenção no Médio Oriente (para isso
recomendo a leitora da ‘new-type of war’,
uma doutrina militar desenvolvida pelos russos depois de observar os falhanços
americanos no Médio Oriente). Esta desculpa oferece a Putin uma face de
justiceiro, face essa que os EUA, em muito por culpa de liberais como Hillary
Clinton e Obama, tem vindo a perder.
A retirada dos EUA ajudou em muito o
avanço da Rússia para o Médio Oriente. Esta descida foi impulsionada devido á
falta de resposta efectiva da Europa e dos EUA depois da invasão da Crimeia pela
Rússia, utilizando tácticas desenvolvidas no âmbito da ‘New-Type of War’ russa.
A inutilidade do Sistema
Internacional e a fraca resposta da Europa só deu mais animo a Putin.
E Assad?
A Rússia desenvolveu um paradigma
interessante, visto que Putin agora apresenta uma escolha á comunidade
internacional (ainda mais com os recentes bombardeamentos químicos de Assad).
Ou a comunidade Internacional (Europa e EUA) condena Putin e a Rússia pelo
apoio a Assad e por sua vez condena o combate contra o DAESH e o Terrorismo que
é levado a cabo na Síria sobre o pretexto de apoio a Assad, ou permite que este
apoio e combate continue.
A escolha é Assad ou o Terrorismo,
ambas as escolhas más para a comunidade internacional, mas que pouco aleijam a
Rússia.
Com o novo Presidente Trump e a sua política de cordialidade e boas relações com a Rússia em termos iguais, a Rússia pode muito bem meter tudo sobre a mesa e Assad, pelo menos no início, estará em cima da mesa.
Com o novo Presidente Trump e a sua política de cordialidade e boas relações com a Rússia em termos iguais, a Rússia pode muito bem meter tudo sobre a mesa e Assad, pelo menos no início, estará em cima da mesa.
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