A
Rússia não se tem desleixado no que toca ás suas forças armadas, para além do
grande investimento económico em novos modelos de espingardas de assalto, novos
carros de combate, aviões caça de 5ª geração, etc.
A
Rússia alterou também a sua doutrina, algo que se deve admirar, esta admiração
deve-se ao facto de que uma alteração de doutrina, para além de ter de ser
acompanhada por um enorme esforço monetário, é essencialmente um esforço
estrutural, alterando os currículos das academias, os treinos no terreno e a
mentalidade com que se definem os objectivos militares, possibilitando assim o
emprego de uma força armada russa que é muito diferente da força armada que
saiu da URSS.
A
Rússia desde 2000 até ao início do esforço na Síria apresentou um crescimento
económico positivo, com a intervenção nota-se um crescimento negativo na
economia. O crescimento económico tem-se reflectido no rendimento per capita
que em 2000 era de 1710 dólares e em 2015 é de 11450 dólares/ano. Os gastos com
as Forças Armadas dispararam desde 2011 onde se despendeu 3,4% do PIB, para 5%
em 2015, representando as Forças Armadas em 2015 15,8% do gasto total do
governo, apreciando-se assim um fortíssimo esforço da Rússia com as suas Forças Armadas, portanto, uma apreciação e compreensão da evolução das Forças Armadas russas parece ser necessário para perceber como está a Rússia no Médio Oriente.
As
Forças Armadas russas foram o objecto de uma reformulação depois da campanha
contra a Geórgia em 2008 em que Moscovo notou que as forças russas sofriam de
deficiências como a falta de capacidade para adquirir informações sobre o
inimigo, a falta de organização entre as forças, o estabelecimento de
superioridade aérea, e a fraca qualidade do material.
Nota-se
que a Rússia tem crescido internamente, cimentando as necessidades em termos de
Hard Power para sustentar a política
externa, uma população em crescimento em número e economicamente, aumentando
também esperança média de vida.
Isto permite a que Putin reúna à sua volta um grande consenso nacional, o que permite gerar através da
propaganda um inimigo, e criar a vontade necessária nesse consenso nacional
para que possa aplicar a força russa no terreno, transformando essa força em
poder efectivo.
Assim em 2008 procederam-se a
reformas e em 2011 iniciou-se um programa de 670 Biliões de dólares para a
modernização das Forças Armadas. Já desde 1997 que existem opiniões, esforços e
planos para a reforma das Forças Armadas russas, na direcção que estas levaram
a partir de 2008, reformas estas que receberam entraves de por exemplo, Boris
Yeltsin, mas que apenas diminuiu o ritmo a que estas reformas seguiram
Em termos de números foi abandonada
a ideia de recrutamento massivo da URSS, adaptando-se as Forças Armadas para um
sistema mais moderno, mais pequeno, mas mais profissional e mais bem equipado.
A ocupação de território não é a principal função das Forças Armadas russas,
sendo que segundo o que se pode ver no terreno, as Forças Armadas russas são
usadas em apoio dos interesses russos em territórios de amigos e aliados como
se pode ver na Síria.
A Doutrina foi também alterada,
intitulando-se de “new-type war”,
combinando os conceitos de ‘Guerra Hibrida’ e de ‘New Generation War’, notando o Tenente-General A. V.
Kartapolov que se estes conceitos estavam a ser usados pelos Estados Unidos da
América e as Forças Armadas russas teriam de ser capazes de combater desta
forma
Esta nova forma de fazer guerra é
um conjunto de lições retiradas da acção americana no Médio Oriente, a aplicação de pequenas forças altamente profissionalizadas e motivadas, apoiadas por uma forte base material, que pretendem ajudar em pontos chave, o esforço dos aliados russos, de maneira a possibilitar que esses mesmos aliados avancem ao mesmo tempo que levam os interesses russos com eles .
A Rússia tem enviado cada vez mais
forças para o Médio Oriente (Síria), começando com apoio logístico e doutrinal
com conselheiros, passando para a aplicação de forças aéreas até às unidades
terrestres.
Paralelamente à força e vontade
demonstrada e da capacidade de lidar com o avanço da guerra, a Rússia tem
executado manobras diplomáticas no Médio Oriente, manobras que vão ao encontro
das teorias expansionistas eurasiáticas encabeçadas por Alexander Dugin. A Rússia possui entre o Irão, Turquia, Síria e
Egipto, um eixo de amigos e aliados capaz de fazer com que a Rússia seja tomada
como um novo jogador, e como uma potência capaz no palco mundial, tentando
contrabalançar a posição americana na hierarquia dos Estados.
Sem comentários:
Enviar um comentário