quinta-feira, 27 de abril de 2017

A Rússia e o "New Type of War". Uma aproximação táctica da politica externa russa.

A Rússia não se tem desleixado no que toca ás suas forças armadas, para além do grande investimento económico em novos modelos de espingardas de assalto, novos carros de combate, aviões caça de 5ª geração, etc.
A Rússia alterou também a sua doutrina, algo que se deve admirar, esta admiração deve-se ao facto de que uma alteração de doutrina, para além de ter de ser acompanhada por um enorme esforço monetário, é essencialmente um esforço estrutural, alterando os currículos das academias, os treinos no terreno e a mentalidade com que se definem os objectivos militares, possibilitando assim o emprego de uma força armada russa que é muito diferente da força armada que saiu da URSS.
A Rússia desde 2000 até ao início do esforço na Síria apresentou um crescimento económico positivo, com a intervenção nota-se um crescimento negativo na economia. O crescimento económico tem-se reflectido no rendimento per capita que em 2000 era de 1710 dólares e em 2015 é de 11450 dólares/ano. Os gastos com as Forças Armadas dispararam desde 2011 onde se despendeu 3,4% do PIB, para 5% em 2015, representando as Forças Armadas em 2015 15,8% do gasto total do governo, apreciando-se assim um fortíssimo esforço da Rússia com as suas Forças Armadas, portanto, uma apreciação e compreensão da evolução das Forças Armadas russas parece ser necessário para perceber como está a Rússia no Médio Oriente.
As Forças Armadas russas foram o objecto de uma reformulação depois da campanha contra a Geórgia em 2008 em que Moscovo notou que as forças russas sofriam de deficiências como a falta de capacidade para adquirir informações sobre o inimigo, a falta de organização entre as forças, o estabelecimento de superioridade aérea, e a fraca qualidade do material.
Nota-se que a Rússia tem crescido internamente, cimentando as necessidades em termos de Hard Power para sustentar a política externa, uma população em crescimento em número e economicamente, aumentando também esperança média de vida.
            Isto permite a que Putin reúna à sua volta um grande consenso nacional, o que permite gerar através da propaganda um inimigo, e criar a vontade necessária nesse consenso nacional para que possa aplicar a força russa no terreno, transformando essa força em poder efectivo.
Assim em 2008 procederam-se a reformas e em 2011 iniciou-se um programa de 670 Biliões de dólares para a modernização das Forças Armadas. Já desde 1997 que existem opiniões, esforços e planos para a reforma das Forças Armadas russas, na direcção que estas levaram a partir de 2008, reformas estas que receberam entraves de por exemplo, Boris Yeltsin, mas que apenas diminuiu o ritmo a que estas reformas seguiram
            Em termos de números foi abandonada a ideia de recrutamento massivo da URSS, adaptando-se as Forças Armadas para um sistema mais moderno, mais pequeno, mas mais profissional e mais bem equipado. A ocupação de território não é a principal função das Forças Armadas russas, sendo que segundo o que se pode ver no terreno, as Forças Armadas russas são usadas em apoio dos interesses russos em territórios de amigos e aliados como se pode ver na Síria.
            A Doutrina foi também alterada, intitulando-se de “new-type war”, combinando os conceitos de ‘Guerra Hibrida’ e de ‘New Generation War’, notando o Tenente-General A. V. Kartapolov que se estes conceitos estavam a ser usados pelos Estados Unidos da América e as Forças Armadas russas teriam de ser capazes de combater desta forma
            Esta nova forma de fazer guerra é um conjunto de lições retiradas da acção americana no Médio Oriente, a aplicação de pequenas forças altamente profissionalizadas e motivadas, apoiadas por uma forte base material, que pretendem ajudar em pontos chave, o esforço dos aliados russos, de maneira a possibilitar que esses mesmos aliados avancem ao mesmo tempo que levam os interesses russos com eles .
            A Rússia tem enviado cada vez mais forças para o Médio Oriente (Síria), começando com apoio logístico e doutrinal com conselheiros, passando para a aplicação de forças aéreas até às unidades terrestres.
            Paralelamente à força e vontade demonstrada e da capacidade de lidar com o avanço da guerra, a Rússia tem executado manobras diplomáticas no Médio Oriente, manobras que vão ao encontro das teorias expansionistas eurasiáticas encabeçadas por Alexander Dugin. A Rússia possui entre o Irão, Turquia, Síria e Egipto, um eixo de amigos e aliados capaz de fazer com que a Rússia seja tomada como um novo jogador, e como uma potência capaz no palco mundial, tentando contrabalançar a posição americana na hierarquia dos Estados.



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