As estrelas da esquerda latino-americana; Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador chegaram ao fim da linha. O colapso económico e social da Venezuela e a estreitíssima vitoria do candidato de esquerda no Equador este fim de semana, indiciam que o capítulo esquerdista da recente história da América Latina chegou ao fim com estrondo.
O Brasil de hoje apresenta-se como a mais espectacular queda dos países emergentes. Sob a direcção do presidente Lula da Silva, os brasileiros viveram uma melhoria na qualidade de vida entre 2003 e 2010. 20 milhões de brasileiros saíram da pobreza e o Brasil lucrou com uma combinação de políticas macroeconômicas acertadas e um excelente ciclo de commodities alimentado pela China que impulsionou as exportações de um país rico em recursos.
Mas, à medida que a popularidade do governo subia, este começou a abandonar lentamente a prudência macroeconômica e implementar políticas nacionalistas, isto especialmente pela socialista Dilma Rousseff. A chegada do abrandamento económico Mundial levou a que o PIB do Brasil tenha ido de um crescimento robusto para uma profunda recessão - 7,5 por cento em 2010 para -3,8 por cento em 2015.
A investigação Lava Jato, o maior caso de corrupção política da história do Brasil, que se concentra a volta da empresa publica Petrobras, acertou em Rousseff e Lula mas também a oposição, com o sucessor de Dilma, Michel Temer a ser acusado de corrupção e impedido de concorrer a cargos políticos nos próximos oito anos. Todo o centro politico parece “atingido de morte” e os brasileiros já não têm mais paciência para os seus políticos. Este é o campo aberto para a emergência populista.
A Argentina perdeu US $ 95 bilhões em 2001 e, dois anos mais tarde, os eleitores elegeram o esquerdista Nestor Kirchner para liderar o país que saia da estagnação económica. Na época, quase 50% dos argentinos viviam na pobreza. Mas, como Lula no Brasil, Kirchner teve a sorte de chegar ao poder durante o superciclo das commodities chinesas. A esposa de Nestor, Cristina, sucedeu-lhe em 2007, e nos 12 anos no poder, os Kirchner utilizaram o crescimento das exportações agrícolas para aumentar enormemente os programas do bem-estar social e os subsídios do governo aos argentinos. Os investidores estrangeiros duvidaram da economia especialmente quando ficou claro que os métodos e informação macroeconómica que o governo providenciava eram suspeitos.
Os argentinos mudaram em 2015 para o centro-direita com Mauricio Macri, que já tomou medidas para impulsionar a confiança dos investidores estrangeiros, unificando a taxa de câmbio e resolvendo os obstáculos com os credores internacionais para retornar aos mercados mundiais. Ainda assim, as políticas de Macri têm de proporcionar crescimento e investimento significativos, pois o estado em que os Kirchner deixaram a economia argentina é complicado. E Cristina? Está se a preparar para ser julgada por acusações de que, entre outras coisas, tentou defraudar o governo em mais de US $ 3 bilhões.
Passando aos países onde a Esquerda está no poder;
O presidente Nicolas Maduro não tem o carisma ou o talento político do seu mentor, o falecido Hugo Chávez, que governou o país entre 1999 e 2013 e que consegui, entre 2002 e 2011, que a taxa de pobreza venezuelana caísse de 48,6 % para 29,5 %. Como Lula e os Kirchner, Chávez fez promessas iniciais para melhorar as vidas dos mais pobres e vulneráveis do país, que concretizou à boleia do ciclo chinês e do petróleo caro.
Maduro não tem essa sorte – nem o resto. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, numa época em que o petróleo se vende por cerca de US 50$ por barril – chegando a Venezuela a vendê-lo por US 42$. O petróleo é responsável por 95% das receitas de exportações da Venezuela, e o venezuelano médio está a sofrer por isso, num país carregado de serviços públicos que não funcionam. 93% dos venezuelanos hoje não se podem dar ao luxo de comprar comida suficiente para comer isto quando há comida para comprar. A inflação está em 800 % de acordo com estimativas não oficiais pois o banco central da Venezuela já não publica dados da inflação desde Dezembro de 2015. O governo parou também de publicar dados do PIB em Fevereiro 2016. O FMI estima que a economia venezuelana se contraiu 10 % no ano passado, sendo a economia nacional com o pior registo do Mundo!
Na Bolívia, Evo Morales está no cargo desde Janeiro de 2006. Eleito depois que seus dois predecessores foram expulsos em protestos populares, o ex-líder sindical rapidamente renacionalizou as indústrias de petróleo e gás do país e usou a infusão de dinheiro para financiar extensos projectos de obras públicas e sociais Programas que reduziram os níveis de pobreza em 25%. Foi reeleito em 2009 e novamente em 2014. Sob sua liderança, a economia boliviana cresceu entre 3 e 6,5% a cada ano na última década. No entanto, a queda dos preços do gás natural ameaça esse progresso, e as condições de seca criaram uma enorme escassez de água. O futuro não é brilhante.
Morales quer um quarto mandato como presidente, mas os limites constitucionais impedem o seu caminho. Em Fevereiro de 2016, os eleitores optaram por manter esses limites em vigor por uma margem de 51-49. Ele diz que quer voltar a concorrer de qualquer maneira. Se o fizer, não há garantias de que ele ganhe dado a sua popularidade ter sido atingida por alegações de que sua ex-amante Gabriela Zapata ajudou a conseguir contratos governamentais no valor de mais de 500 milhões de dolares para uma empresa de engenharia chinesa que a incluía na folha de pagamento.
O Equador passou por sete presidentes em dez anos antes de Rafael Correa assumir o poder em 2007. Correa, um economista esquerdista, colocou os mercados no limite ao declarar em Dezembro de 2008 que o Equador ia falhar o pagamento da sua dívida externa que ele clamava ser "ilegítima" (onde é que eu já ouvi isto…). Esta acção abalou profundamente o Equador, passando a ser com a Argentina e o Paraguai, mais um falido da América Latina. Mas, por causa do boom do petróleo, a economia continuou a crescer de forma constante, com um crescimento médio de 3,4% entre 2007 e 2014. Durante esse período, o Equador aumentou seus gastos no sector público mais do que qualquer outro país da América do Sul, reduzindo a pobreza em cerca de 10%, com injecções massivas de dinheiro público em obras. No entanto, começou a pagar suas dívidas em 2015 e a controlar os gastos do governo, o que fez com que Correa recebesse elogios do FMI.
Ao contrário de Morales, Correa optou por respeitar os limites de mandato e o controle da despesa e o Equador voltou às urnas este fim de semana. Lenin Moreno, ex-vice-presidente, derrotou Guillermo Lasso, um político de centro-direita e ex-banqueiro, que quer tornar o Equador mais favorável às empresas e impulsionar o investimento estrangeiro cortando impostos. Mas Moreno ganhou por um curto, 51-49% e Lasso está a contestar o resultado. Mesmo se Moreno for o próximo presidente do Equador, ele deve pensar cuidadosamente que direcção tomar, pois antes das eleições, cerca de 70% dos equatorianos disseram que queriam "mudanças relevantes" na politica do governo.
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