O
Cáucaso e a Síria são o Gateway da
Rússia para o Médio Oriente e como tal não poderá sair da esfera de influência
russa. Tudo o resto estará aberto a discussão, quer seja uma discussão mais
acesa ou não.
Não podemos esquecer que o próprio
Assad é propenso a criar caos a Síria com a sua guerra civil, guerra esta que
apenas se mantém devido ao auxílio russo. Para além do mais os G7 já afirmaram
que estão dispostos a negociar uma Síria sem Assad. E não se pode esquecer que
Trump já afirmou (através do seu Twitter) que não pretende entrar na Síria, mas
no fim do dia o Twitter não constitui documento legal.
Assad é portanto a moeda de troca.
A Rússia pode estar disposta a
retirar Assad do poder, mas nunca estará disposta a perder a Síria.
O que se pode então ver no futuro da
Síria?
O Oeste pode falhar por completo.
A Síria pode continuar com Assad no
poder e com o apoio de Moscovo, mas as hostilidades (pelo menos verbais) de
Erdogan já começaram (não nos podemos esquecer que este apoiou o bombardeamento
dos EUA).
Com este continuo apoio a Rússia
tende para a desagregação do triângulo que criou entre si a Turquia e a Síria,
hostilizando a Turquia.
Esta Turquia tem vindo a
consolidar-se politicamente à volta de Erdogan, de maneira que se cria um
Estado NATO, que apesar de ter estado nos últimos tempos mais virado para a
Rússia, pode muito bem voltar a retirar para o seio politico da NATO, para mais
agora que o Presidente Trump decide agir de maneira tão aguerrida quanto à Síria.
Erdogan precisa da NATO e EU se se
quiser opor à Rússia, tal como a NATO e EU precisam de Erdogan para o mesmo
fim, como tal Erdogan não vê ameaça imediata ao seu regime, regime esse
criticado pelos EUA e EU a quando do “Golpe de Estado” a quando da viragem pró
russa.
A Turquia será um dos principais
actores nesta negociação. Um poder regional que se apercebe que está trancado geograficamente
e politicamente, e que portanto terá de saber navegar para se manter como
potência regional.
Seguindo esta lógica e mantendo Putin
o apoio a Assad, a Rússia vê a sua influência na área ameaçada (caso os EUA e
NATO saibam jogar o jogo unidos), quer pela fragilidade do estado de Assad,
quer por uma possível oposição turca.
A
segunda hipótese passa por Putin conseguir uma mudança de cabecilha na Síria.
Neste caso os EUA, EU e NATO terão
de perceber que Putin não abdicará da sua influência geopolítica na Síria, de
onde pode estender a sua influência pelo resto do Médio Oriente e por consequente
ao Indico, onde foi sempre a sua intenção chegar (já com a URSS).
Tido isto em conta os G7 e
comunidade internacional querem Assad fora, não se falando de outra coisa. A
sua expulsão do poder será uma vitória propagandista enorme para o Oeste,
sendo isso que o Oeste quer.
A Turquia será dos poucos que
tentará que o substituto de Assad seja bem escolhido, isto porque será a
Turquia o Estado que terá de directamente lidar como o novo estadista Sírio.
Uma negociação bem sucedida entre o
Oeste, Turquia e Rússia sobre a saída de Assad apenas daria á Rússia mais
tempo. O Oeste tem pelo Médio Oriente outras desculpas para atacar a Rússia e o
Médio Oriente, temos o Irão, o DAESH, o Egipto, etc.
O que Putin necessita é de manter
abertos os canais para Sul, para isso terá de perceber que sozinho não possui
poder suficiente para sustentar o Médio Oriente com adversários mesmo á porta.
Os EUA possuem projecção mundial e
conseguem exercer pressão no Médio Oriente e na Rússia, a Turquia possui uma
das maiores e mais avançadas industrias militares do mundo (vendendo para todo
o mundo, até parta os EUA, e por isso a sua integridade será defendida),
possibilitando a manutenção de operações, sem falar que o regime de Erdogan
parece estar a consolidar-se cravando um possível e perigoso inimigo a Putin na
região, mas por ultimo a EU parece ter a Rússia como principal inimigo e parece
a partir do seu novo conceito estratégico ter gerado organismos políticos e
militares que consigam criar alguma capacidade de pressão sobre a Rússia (como
o comando unificado das forças europeias ou a unificação das industrias
militares).
Por fim, a o própria China ainda
hoje se manifestou no sentido de se mover para abafar a Coreia do Norte, tendo
o próprio Trump dito que está disposto a trabalhar com a China contra a Coreia
do Norte, esta é a mesma China que vê que apesar de possui uma enorme frota,
esta ainda não possui as capacidades tecnológicas, doutrinais e números para
conseguir controlar isoladamente os pontos do “String of Pearls” marítimo, e por isso precisa de mais tempo para
reunir capacidades de o fazer, visto que as esmagadora maioria das matérias-primas
chinesas provêm de outros continentes, sendo escoados destes por via marítima.
Um confronto com a China aconteceria
pelo controlo destes pontos, que quando controlados asfixiariam a China, que
sem petróleo e outras matérias não poderia manter o seu esforço comercial e
militar.
Em suma, a Rússia começa a ser o
foco dos EUA e o inimigo mais proeminente.
A China que poderia ser o centro das
pressões parece poder deixar de o ser (por enquanto) e a Rússia se quer ganhar
mais tempo terá de negociar ou ir para a guerra, guerra essa que a Rússia não
consegue ganhar, quer pelos números, quer pela capacidade de manter um esforço
militar prolongado com tantos inimigos à sua volta.
Assim Assad será moeda de troca por
tempo e estabilidade na região, pelo menos por algum tempo.
O objectivo estratégico a curto prazo é manter a Síria na sua esfera de influência, e como objectivo final chegar ás águas a Sul.
Se as negociações forem bem feitas Assad não tem que necessariamente fazer parte disto.
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