quarta-feira, 12 de abril de 2017

Assad pode ser negociado, a Síria já não.

             O Cáucaso e a Síria são o Gateway da Rússia para o Médio Oriente e como tal não poderá sair da esfera de influência russa. Tudo o resto estará aberto a discussão, quer seja uma discussão mais acesa ou não.
            Não podemos esquecer que o próprio Assad é propenso a criar caos a Síria com a sua guerra civil, guerra esta que apenas se mantém devido ao auxílio russo. Para além do mais os G7 já afirmaram que estão dispostos a negociar uma Síria sem Assad. E não se pode esquecer que Trump já afirmou (através do seu Twitter) que não pretende entrar na Síria, mas no fim do dia o Twitter não constitui documento legal.
            Assad é portanto a moeda de troca.
            A Rússia pode estar disposta a retirar Assad do poder, mas nunca estará disposta a perder a Síria.
            O que se pode então ver no futuro da Síria?
            O Oeste pode falhar por completo.
            A Síria pode continuar com Assad no poder e com o apoio de Moscovo, mas as hostilidades (pelo menos verbais) de Erdogan já começaram (não nos podemos esquecer que este apoiou o bombardeamento dos EUA).
            Com este continuo apoio a Rússia tende para a desagregação do triângulo que criou entre si a Turquia e a Síria, hostilizando a Turquia.
            Esta Turquia tem vindo a consolidar-se politicamente à volta de Erdogan, de maneira que se cria um Estado NATO, que apesar de ter estado nos últimos tempos mais virado para a Rússia, pode muito bem voltar a retirar para o seio politico da NATO, para mais agora que o Presidente Trump decide agir de maneira tão aguerrida quanto à Síria.
            Erdogan precisa da NATO e EU se se quiser opor à Rússia, tal como a NATO e EU precisam de Erdogan para o mesmo fim, como tal Erdogan não vê ameaça imediata ao seu regime, regime esse criticado pelos EUA e EU a quando do “Golpe de Estado” a quando da viragem pró russa.
            A Turquia será um dos principais actores nesta negociação. Um poder regional que se apercebe que está trancado geograficamente e politicamente, e que portanto terá de saber navegar para se manter como potência regional.
            Seguindo esta lógica e mantendo Putin o apoio a Assad, a Rússia vê a sua influência na área ameaçada (caso os EUA e NATO saibam jogar o jogo unidos), quer pela fragilidade do estado de Assad, quer por uma possível oposição turca.
            A segunda hipótese passa por Putin conseguir uma mudança de cabecilha na Síria.
            Neste caso os EUA, EU e NATO terão de perceber que Putin não abdicará da sua influência geopolítica na Síria, de onde pode estender a sua influência pelo resto do Médio Oriente e por consequente ao Indico, onde foi sempre a sua intenção chegar (já com a URSS).
            Tido isto em conta os G7 e comunidade internacional querem Assad fora, não se falando de outra coisa. A sua expulsão do poder será uma vitória propagandista enorme para o Oeste, sendo isso que o Oeste quer.
            A Turquia será dos poucos que tentará que o substituto de Assad seja bem escolhido, isto porque será a Turquia o Estado que terá de directamente lidar como o novo estadista Sírio.
            Uma negociação bem sucedida entre o Oeste, Turquia e Rússia sobre a saída de Assad apenas daria á Rússia mais tempo. O Oeste tem pelo Médio Oriente outras desculpas para atacar a Rússia e o Médio Oriente, temos o Irão, o DAESH, o Egipto, etc.
            O que Putin necessita é de manter abertos os canais para Sul, para isso terá de perceber que sozinho não possui poder suficiente para sustentar o Médio Oriente com adversários mesmo á porta.
            Os EUA possuem projecção mundial e conseguem exercer pressão no Médio Oriente e na Rússia, a Turquia possui uma das maiores e mais avançadas industrias militares do mundo (vendendo para todo o mundo, até parta os EUA, e por isso a sua integridade será defendida), possibilitando a manutenção de operações, sem falar que o regime de Erdogan parece estar a consolidar-se cravando um possível e perigoso inimigo a Putin na região, mas por ultimo a EU parece ter a Rússia como principal inimigo e parece a partir do seu novo conceito estratégico ter gerado organismos políticos e militares que consigam criar alguma capacidade de pressão sobre a Rússia (como o comando unificado das forças europeias ou a unificação das industrias militares).
            Por fim, a o própria China ainda hoje se manifestou no sentido de se mover para abafar a Coreia do Norte, tendo o próprio Trump dito que está disposto a trabalhar com a China contra a Coreia do Norte, esta é a mesma China que vê que apesar de possui uma enorme frota, esta ainda não possui as capacidades tecnológicas, doutrinais e números para conseguir controlar isoladamente os pontos do “String of Pearls” marítimo, e por isso precisa de mais tempo para reunir capacidades de o fazer, visto que as esmagadora maioria das matérias-primas chinesas provêm de outros continentes, sendo escoados destes por via marítima.
            Um confronto com a China aconteceria pelo controlo destes pontos, que quando controlados asfixiariam a China, que sem petróleo e outras matérias não poderia manter o seu esforço comercial e militar.
            Em suma, a Rússia começa a ser o foco dos EUA e o inimigo mais proeminente.
            A China que poderia ser o centro das pressões parece poder deixar de o ser (por enquanto) e a Rússia se quer ganhar mais tempo terá de negociar ou ir para a guerra, guerra essa que a Rússia não consegue ganhar, quer pelos números, quer pela capacidade de manter um esforço militar prolongado com tantos inimigos à sua volta.

            Assim Assad será moeda de troca por tempo e estabilidade na região, pelo menos por algum tempo.
            O objectivo estratégico a curto prazo é manter a Síria na sua esfera de influência, e como objectivo final chegar ás águas a Sul.
               Se as negociações forem bem feitas Assad não tem que necessariamente fazer parte disto.


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