O
recente referendo realizado na Turquia que ofereceu uma ligeira maioria a
Erdogan não pode ser visto longe da luz dos novos populismos.
Erdogan
corre á frente dos seus apoiantes quase implodindo nos seus comentários sobre inimigos
externos, sobre problemas de ordem interna e as soluções que promove.
É
certo que a Turquia possuí factores potencializadores de uma muito boa amizade com
a Europa, mesmo depois do referendo que fez com que Erdogan se tornasse praticamente
num Rei de um sistema presidencialista, factores esses como uma posição
Geobloqueante em relação á Rússia (visto que uma passagem segura pelos Bósforo
é VITAL para a Rússia, e portanto um trunfo precioso para a Europa) ou uma
Industria de Defesa que envergonha os esforços europeus na matéria.
Mas
com isto tudo, e apesar de se saber que o novo sistema presidencialista turco
pouco alteraria as relações Turquia – Oeste, a União Europeia afirma estar em
risco sério a adesão da Turquia á União (o que levaria a que a Turquia fortalecesse
em muito a posição anti russa da União europeia), este risco advém das razões
do populismo em volta de Erdogan, sendo a grande razão para o seu populismo a
cedência aos gritos da população pela implementação da pena de morte.
Para
fazer parte da União Europeia os países que se candidatam devem cumprir uma série
de requisitos.
Estes
requisitos englobam a inexistência da pena de morte a quando da adesão e rectificação
da adesão dos países candidatos á União Europeia.
A
balança que Erdogan criou entre ser amigável ao Oeste e a sua retórica de
adesão á União Europeia, contrapondo a sua aparente amizade com a Rússia
permitiu a Erdogan elevar a Turquia no ranking dos países no Sistema
Internacional, mostrando-se e impondo-se como uma potência regional vital quer
para os objectivos do Oeste quer para os objectivos russos, podendo assim
retirar o melhor dos dois mundos.
A
não tão recente aprovação de Erdogan aos ataques americanos sobre solo sírio demonstram
que Erdogan, mesmo com o novo sistema presidencialista, poderá ser coagido a interferir
na Síria e nos interesses geopolíticos russos na entrada russa para o Médio
Oriente.
E
onde é que entre a Guiné Equatorial?
Bem,
a Guiné Equatorial demonstrou há já uns anos a sua intenção de entrar para a
CPLP, mas a existência da pena de morte no país barrava a sua entrada para a
comunidade internacional dos países de língua portuguesa, no entanto um simples
‘congelamento’ da pena de morte permitiu a rectificação da adesão da Guiné
Equatorial na CPLP, mantendo a pena de morte, o Presidente da Guiné Equatorial
apesar de ter enviado uma proposta para a anulação da pena de morte na lei,
esta pena apenas está ‘congelada’, podendo continuar a ser sentenciada.
A
Turquia (diga-se antes ‘Erdogan’) pode ter num modelo igual ou parecido a
solução para se manter a balança de poder que mantém na região, da qual
beneficiam imenso.
Erdogan
não se pode dar ao luxo de seguir o exemplo de Trump.
Trump
actualmente está barrado entre as suas promessas eleitorais e o populismo que o
elegeu e a máquina que é o sistema governativo e interesses dos EUA, sendo que
começamos a ver que mesmo Trump é incapaz de parar a máquina de acção externa
americana.
Erdogan
conseguiu ganhar um referendo dentro dos moldes de populismo de Trump, e como
tal terá de ceder em parte á população que lhe deu a vitória.
Erdogan
é demasiado importante para a política externa europeia (especialmente quando
pode ficar até 2029 no poder de um sistema Presidencialista quase
totalitarista) para que possa simplesmente ser alienado, o que levaria a que
Erdogan procurasse apoio na Rússia. Algo que ninguém quer.
Neste
caso Erdogan poderia aprovar a pena de morte e apaziguar os seus seguidores,
consolidando a sua base de poder, oferecendo uma imagem de si mesmo com um
homem que cumpre as suas promessas.
Ao
mesmo tempo Erdogan poderia, com os seus poderes, congelar a aplicação dessa
mesma pena de morte, usando isso como retórica para o Oeste de como está
disposto a negociar uma amizade e entrada para a União Europeia, percebendo-se
de ante mão que Erdogan e a Turquia são demasiado importantes para a União Europeia
e para a sua estratégia a longo termo para que a retórica de que apesar de ter
a pena de morte estabelecida na sua legislação, a não aplicação dela possa ser
motivo suficiente para que a Europa possa aparecer com as mãos e a cara lavada.
No
fim, passará tudo por um golpe de propaganda e retórica.
Ambos
os países possuíam o mesmo problema de adesão a uma Organização Internacional,
mas a Guiné Equatorial parece ter arranjado solução para o seu caso, a Turquia
poderá também.
A
escolha tem de ser feita, e como já vimos, existem precedentes que podem ser
utilizados.
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